quarta-feira, 24 de junho de 2009

O surdo

Ele não frequentou os mesmos tipos de escolas, portanto não tem a mesma formação que os outros inúteis do time, mas têm o mesmo cargo e o mesmo salário. Suas habilidades de se comunicar são muito restritas: ele não entende nada que tu escreve e vice-versa, pois o português-libras que ele aprendeu (e não faz a menor questão de evoluir à norma culta) simplesmente não serve para se comunicar com não-surdos.
Ele não tem papel nenhum na equipe, os gerentelóides não sabem o que fazer com ele, jogando a responsabilidade de "babá" para o "aspira" mais novo. Ele também não se esforça em demonstrar ser capaz de fazer alguma coisa além de ficar teclando nos mensageiros on-line, navegar em sites inúteis e baixar/ver filmes (sim, ele BAIXA torrents no trabalho e ASSISTE filmes inteiros) no horário de expediente. Ele não faz nem questão de se comportar como ser civilizado, tossindo escrachadamente de boca aberta ou fedendo a chubosa com frequencia.
Demitir esse cara não tem resultado prático pois a empresa pagaria todas as obrigações e teria o trabalho de RH desperdiçado para contratar outro exatamente igual, já que o nosso sábio legislativo assistencialista barato obriga a existência de deficientes nas organizações (através do injusto e deliciosamente perverso sistema de quotas). Ele nunca vai se demitir, pois está no seu sagrado direito de ser incompetente e inútil, ocupando um cargo para o qual não serve nem tem a menor pretensão de servir, já que nada lhe é cobrado, em termos de desempenho ou mesmo postura, com todos (ou a ampla maioria) lhe tratando como uma criança mimada, cheia de privilégios incontestáveis. E que ninguém os conteste nunca pois, além de ser taxado imediatamente como maldito nazista preconceituoso com os deficientes, o tal pode ser demitido por justa causa.
Embora o título deste post não indique, que fique aqui claro que também coloco todos os outros deficientes ineficientes nesse mesmo balaio, para que possam se sentir injustiçados e discriminados por este que lhes escreve. Em minha defesa vos digo: já trabalhei em equipes onde haviam cegos e surdos e este é o conceito (conforme definição do post anterior, entendam: pós-conceito) que tenho deles. Não estou dizendo que é impossível existir deficientes úteis; eu apenas não os conheço, talvez pela estupidez dos RH de plantão, que contratam cegos para tarefas de precisão ou surdos para tarefas de comunicação, ou pela postura de acomodação ao assistencialismo, que deve ser sempre condenada, mas com mais veemência em sua origem do que em seus desfrutadores.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Conceito e preconceito

Antes de começar a escrever os próximos posts, quero deixar bem claro a diferenciação destes termos, então, primeiramente de acordo com o dicionário e depois com meus tradicionais exemplos.

conceito
s. m.
1. Mente (considerada como sede das concepções).
2. Opinião, ideia, juízo (que se faz de alguém ou de alguma coisa).
3. Dito engenhoso.
4. Reputação (usado com os adjectivos bom ou mau).
5. Expressão sintética; síntese.
6. Moralidade (duma fábula, dum conto, etc.).
7. Parte final e elucidativa duma charada.
Ex.:
"Esse surdo que trabalha na equipe é um incompetente e preguiçoso."
"O rabino Luís é extremamente avarento."
"Meu avô era um italiano mal-educado e irritadiço."
"Eu sou gordo e sedentário, portanto tenho dificuldades em me movimentar agilmente."
"Formei péssimo conceito sobre Joana após ter participado de seu grupo de estudos."

preconceito
s. m.
1. Ideia, conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério.
2. Estado de abusão, de cegueira moral.
3. Superstição.
Ex.:
"Pretos são indolentes."
"Esses velhos abusados acham que tem direitos acima dos outros."
"Judeus são sovinas."
"Gordos são preguiçosos."
"Isso é bem coisa de japonês."


sexta-feira, 5 de junho de 2009

Migalhas para o pão, diamantes para o circo

Batendo incansavelmente numa das preferidas teclas destes inúteis escritores, hoje me inspirei a vomitar sobre os rendimentos médios de exemplares de algumas áreas do conhecimento humano. Como bom inútil, não vou referenciar as fontes exatas dos dados. Em linhas gerais, foram coletados do IBGE, Revistas ISTOE, Placar, Forbes, etc. Se você é um daqueles otimistas deslumbrados, apenas acredite que eu estou mentindo, distorcendo a informação. Mas não estou. 

Portanto, os dados abaixo apresentados estão propositadamente representados de forma a não serem tão precisos, mas são verídicos. A minha conclusão óbvia já está no título deste post. Tire suas próprias.

Todos os valores de renda abaixo são referentes às grandes regiões metropolitanas do meu Brazzzil varonil e expressos em reais/mês.

PÃO:
Média da indústria: 1.400
Média do comércio: 1.100
Média do setor de serviços: 1.800
Média do setor de construções: 1.000
Média suposta para o setor informal: 1.200
Média do setor de educação: 1.600
Média do setor de saúde: 1.700
Média dos funcionários públicos: 1.500
Média dos trabalhadores da informática: 1.800

CIRCO:
Média do setor de entretenimento: 2.500
Média dos músicos: 2.700
Média dos artistas de tv/cinema: 5.200
Média dos esportistas: 6.000
Média dos jogadores de futebol: 7.500
Média dos políticos (considerado por mim como circo): 8.400

Tendo isto estabelecido, vamos aos casos específicos:

PÃO: 
Josicreide, empregada doméstica: 480
Márcio, estagiário de enfermagem: 700
Luisnilton, gari: 850
Alexandre, programador: 1.300
Jussara, RH: 1.100
Vera, professora: 1.500
Gilberto, bancário: 1.600
Uilson, pedreiro: 900
Diogo, vendedor: 1.100
Istanislau, padeiro: 750
Severino, camelô: 1.000
Garcia, policial: 1.800

CIRCO:
Ronaldo Nazário, jogador de futebol: 1.100.000
Fausto Silva, apresentador: 1.200.000
Giba, jogador de vôlei: 650.000
Paulo Coelho, escritorzinho: 500.000
Rogério Ceni, goleiro: 300.000
Jô Soares, humorista: 350.000
Paulo Paim, senador: 60.000
Zezé di Camargo, cantor: 430.000
Miguel Fallabela, ator: 280.000
Lair Ribeiro, palestrante: 150.000
Benedito Rui Barbosa, novelista: 180.000
Fátima Bernardes, jornalista: 170.000


terça-feira, 2 de junho de 2009

Nós, os losers

E aqui estamos em mais um belo dia (deve estar, não enxergo a rua) de trabalho. Pra quem não sabe a etimologia da palavra (pra quem não sabe o que é etimologia, recomendo fortemente desistir do SIC e ir ler Maurício de Sousa), o termo vem do Latim tripalium (ou trepalium), "instrumento romano de tortura", que era uma espécie de tripé formado por três estacas cravadas no chão, no meio das quais ficava meio suspenso meio empalado o escravo.
Aqui estou eu, apenas mais um desses empalados pela civilização, sentado na minha cadeira ruim, engolindo meus Bufo paracnemis (sapo-boi) e vomitando minhas inutilidades neste inútil blog. Hoje então tocarei (novamente...) nesse assunto que rege a vida da esmagadora maioria dos hominídeos: o inegável fato de ser um perdedor.

Acredito que todos os inúteis que alguma vez já vomitou por aqui tocou nessa ferida, mesmo que indiretamente, pelo menos uma vez. É uma realidade dura e verdadeira. Não importa se você é um otimista deslumbrado ou um emo-pessimista depressivo... o fato inegável é: se você está lendo isso, você é um LOSER.
Como dizem os motherfucking fat american asses, LOSER (perdedor, na tradução literal), na definição deste inútil, é aquele que não alcançou, nem tem possibilidade de alcançar, um status de indepência pessoal que possibilite uma vida livre e desobrigada. Como de costume, vamos às "regrinhas gerais" para definição do LOSER:

1) Você tem hora para tudo: para acordar, para pegar a condução, para chegar, para almoçar, etc.
2) Você não tem hora para nada: para fazer suas coisas pessoais, para contemplar um pôr do sol, para relaxar ouvindo um cd inteiro, ...
3) Você já teve alguma doença que pegou das aglomerações: geralmente viroses
4) Você já passou mal depois de comer
(não propositalmente) algo sem cuidado no preparo: diarréias, desidratação, infecções alimentares, verminoses
5) Você já precisou se submeter a um transporte público absurdamente lotado
6) Você tem celular, deixa ele sempre ligado e sempre atende quando toca: que saudade do tempo em que não havia a "escravidão pela rede" (hummm, ótimo assunto para um futuro post)
7) Sua condução já lhe deixou na mão no meio da rua: carro ou ônibus pifado, greve do transporte público
8) Você já foi esculachado por outros e não pôde reagir: ou se conteve, por várias razões com as quais só perdedores se preocupam
9) Você não participou/participa da educação de algum de seus filhos
10) Você já pensou em se matar: em caso afirmativo, mesmo que você esteja na lista dos mais milionários da Forbes (e, principalmente se estiver), você é LOSER
11) Você já teve doenças provocadas por atividades estressantes e repetitivas: L.E.R., outras doenças relacionadas ao stress
12) Você já precisou cortar gastos básicos no seu orçamento pessoal ou familiar: quase ninguém concorda, mas, na minha opinião, se você é pobrão, remediado ou classe média, você pode até não "ser" um perdedor em essência, mas "está" perdedor nesse momento
13) Você já foi assaltado na rua: somente pessoas que moram em locais genuinamente LOSERS presenciam ou são assaltos fora de locais de grande tentação, como bancos ou joalherias
14) Você já jogou na raspadinha, no bicho ou na loteca: se você arrisca pouco para ganhar muito pouco, obviamente você é um perdedor nato
15) Você trabalha por necessidade e não por escolha: novamente muitos não vão concordar, mas esse para mim é um dos maiores definidores do perdedor, ter que vender sua liberdade por míseros dinheiros
16) Você não gosta do seu trabalho: isso apenas corrobora a regra anterior, mostrando o quanto você é perdedor para ter que aguentar ser escravo sem mesmo poder escolher a senzala
17) Você se submete à alguém em troca de algum tipo de status: isso vale para aqueles LOSERS que se submetem à outro LOSER no intuito de usurpar o que possui (ex. marias chuteira, "fagundes")
18) Você aceita que alguém se submeta a você em troca de algum tipo de status: é uma via de mão dupla; tanto o que usurpa, como o que aceita conscientemente o usurpador (ex. jogadores de futebol, "chefinhos") são perdedores
19) Você tem a necessidade da tragédia: se interessa por histórias de desgraças, notícias de tragédias, sofrimentos alheios, comenta com os outros perdedores, assiste o jornal nacional ou similares, etc.
20) Você se acha ganhador simplesmente pelo fato de existirem outros perdedores além de você: na minha opinião, o pior tipo de LOSER é aquele que sempre usa os bordões "podia ser pior" ou "fique contente, tem gente pior que você" pois, além de estar usando a desgraça alheia como bálsamo (vide regra anterior) ainda tenta se/te convencer que isso o faz um ganhador (síndrome do deslumbrado)