segunda-feira, 27 de dezembro de 2004

Um Dia de Calma

Todo dia o estimado colega que senta na minha frente passa duas horas no telefone. Não, ele não fica falando com clientes. Ele fica fazendo ligações pessoais. Eu devo conhecer toda a vida pessoal do cidadão. Hoje ele está conversando com não-sei-quem sobre a sua atribulada vida amorosa. Um dia eu vou chegar na empresa com um bastão de beisebol. Vou quebrar o telefone do meu colega. O celular dele, eu enfio no rabo dele (e tiro uma foto lá de dentro). Em seguida eu vou cortar a língua dele com uma tesoura de jardineiro. Então vou sentar no meu lugar e trabalhar sossegadamente, aproveitando o silêncio...

Como vocês podem ver, voltei bem mais relaxado do Natal.

Nota Mental: comprar um cd-player portátil...

domingo, 26 de dezembro de 2004

Maré...

Depois de ter 5 dentes cariados, uma cirurgia no siso, um acidente de trânsito que me deixou 5 dias com colar cervical, duas caixas de antiinflamatório, duas caixas de tarja-preta, não ter o carro aceito pra conserto por nenhuma oficina, dar o carro a preço de banana pruma seguradora, estar há um mês e uma semana a pé, ter uma infecção intestinal, derrubar a chave de casa no fosso do elevador, pedir demissão da bosta de emprego, cumprir um mês de aviso prévio, ter uma infecção de pele por fungos e uma tendinite na destra, tudo isso nos últimos 45 dias do ano, finalmente se aproxima o ano novo...
E, se deus ou o satanás quiserem, espero que o tsunami (tal qual o da Indonésia, ontem) passe, levando consigo seus mortos e feridos, deixando pra nóis, pobres manos inúteis, algo que preste pra 2005.
Em uníssono: AMÉM!!!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2004

Algumas coisas

1 - Depois da festa de confraternização, onde enchemos a cara até cair, este respeitavel blog entrará em recesso. Mas não por muito tempo.

2 - O nosso salvador, aquele a que esperamos a chegada todo mês de dezembro, já deu as caras. O 13º, óbvio.

3 - Por onde anda 2x2eh4?

O verdadeiro conto de Natal

Um Conto de Natal (A Christmas Carol) - Charles Dickens - 1843

- Versão em português

- Versão original em inglês

Filmes:

- Os Fantasmas se Divertem (Scrooged) - Com Bill Murray - 1988

- Adorável Avarento (Scrooge) - Musical - 1970

Pronto. Agora o fantasma do Charles Dickens não vem mais puxar meu pé de noite por eu ter esculhambado a história dele.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2004

Conto de Natal da SIC - Parte Final

(Uhú! Acabei essa merda! Leio as outras partes nos posts anteriores)

Entrou no apartamento esbaforido. Atirou-se no sofá e ficou pensando porque, afinal, aquilo tudo tinha que estar acontecendo logo com ele. Como se ele, um reles inútil, tivesse alguma importância. E o que eram esses fantasmas-estereótipos? Como seria o próximo? Um nerd? Um cientista maluco? Um chefe-arara? Levantou e foi na cozinha preparar mais uma dose de cuba. Já que provavelmente não ia ter como fugir do fantasma, então o melhor era enfrentar a situação preparado.

Quando voltou, de copo na mão, reparou que já eram mais de onze horas da noite. Talvez o próximo fantasma nem viesse. Quem sabe? Mas o seu otimismo foi embora quando ouviu um ruído conhecido atrás de si. Era aquela barulheira insuportável de quando o fax-modem do computador se conecta com a Internet. O único problema era que o seu computador estava desligado.

Já imaginando o que ia acontecer, Overman derrubou todo o conteúdo do copo goela abaixo. Olhou para o seu velho computador de guerra e viu que uma luz avermelhada estava sendo projetada pelo monitor. Um segundo depois, no lugar aonde o facho de luz apontava, surgiu uma estranha criatura. Não tinha rosto, era apenas uma longa capa escura tapando um corpo, ou seja lá o que tinha ali embaixo. Overman não se abala diante da figura, e já sob efeito da última dose, tenta iniciar um diálogo:

- Nossa. Gostei dos efeitos especiais. Com esse aditivo aqui então – aponta para o copo vazio – ficou melhor ainda.
- ...
- Tu não fala não?
- ...
- Ah, entendi. O espírito dos natais futuros não fala, claro. Afinal, o futuro não aconteceu ainda. Né, não?
- ...
- Mas me diz, chefia, o que exatamente tu é? Um Nazgûl? O Darth Vader? Um dementador? O Mancha-Negra?
-...
- Hehehe. Legal isso. Posso perguntar qualquer coisa e tu não reage. Que time é teu?
- ...
- Tá, e então? De que forma irônica iremos ver o futuro?

O fantasma lentamente levanta o braço e aponta para a tela do computador.

- Nesse monitorzinho de 14 polegadas? Mas que sem graça...

A criatura balança a cabeça, em negativa. Neste instante a luz avermelhada começa a ser projetada novamente, mas desta vez em todas as direções e com mais intensidade, cegando Overman por alguns segundos. Quando ele pôde enxergar novamente, não estava mais no seu apartamento. Ele e o fantasma voavam numa velocidade absurda dentro de alguma espécie de rede de túneis high-tech. À volta deles passava todo tipo de imagem, som, luz e movimento, num caos enlouquecedor. Logo Overman percebeu onde estavam.
- Caralho!! Isso aqui é a Internet?? Mas essa não pode ser a minha conexão discada. Ela não seria tão rápida assim.

Terminou esta frase e foi atingido na cara por um objeto estranho e pegajoso. Desgrudou aquela coisa mal-cheirosa e examinou com as mãos.

- Que isso? Tem um negócio escrito aqui. “Enlarge your penis”. Merda! Fui atingido por um spam!!

Nesse momento de distração ele não percebeu que o túnel o qual viajavam terminou. Ele e o fantasma caíram dentro de uma grande sala. Overman, depois de se recuperar do tombo, olhou em volta e viu que a sala não tinha janelas. Na sua frente, havia uma espécie de púlpito com um metro de altura. Não havia ninguém além deles na sala.

- Tá, seu Mancha. E agora?
- ...
- Imaginei.

Foi quando surgiu um homem de uma porta à esquerda, que vinha caminhando apressado e xingando um outro, que vinha mais atrás.

- Vamos com isso Dante! Rápido que tem mais dois inúteis pra despachar hoje.

Dante carregava com dificuldade uma grande caixa de papelão. O outro homem dirigiu-se para a parede rente ao púlpito. Abriu um painel que havia escondido ali e pressionou uma seqüência de botões. Feito isso, o teto do púlpito se abriu e lá de dentro surgiu um grande caixão preto.

- Vai Dante. Abre isso daí e despeja ali no incinerador.

Dante, atrapalhado, abriu uma outra portinhola, que ficava na lateral do púlpito. Depois, abriu a caixa de papelão e começou a despejar o seu conteúdo lá dentro. Eram várias folhas esverdeadas, de tamanho mediano. Overman, que até então tinha observado tudo impassível, e percebendo que os dois homens não podiam ver nem ele nem o fantasma, aproximou-se da caixa de Dante e retirou uma daquelas folhas de dentro, antes que fosse para o incinerador também. Olhou para ela e levou um susto. Decidiu verificar outra folha também. Mesma reação. Olhou outra e outra e outra. Ficou em pânico e correu para o fantasma.

- Isso aqui, mas ali...Aquilo...Aquela caixa...
- ...
- São contra-cheques! Meus!! Tem trinta e cindo anos de contra-cheques ali!! O que significa isso??

Dante, como se tivesse ouvido Overman, dirige a palavra para o outro homem:

- Não vem ninguém não?
- Não – responde o outro – não tem ninguém.
- E esses contra-cheques? Porque vão ser usados pra isso?
- Pedido do próprio cara. Ele não deixou mais nada mesmo.
- Credo. Devia gostar de um sarcasmo, o cara.

O homem acionou mais uns botões no painel e o caixão começou a baixar lentamente. Uma música fúnebre começou a tocar. Em seguida, os dois funcionários da funerária foram embora. Mas podia-se ouvir o inconfundível ruído das chamas vindo de dentro do incinerador. Foi o suficiente para Overman recobrar a indignação com os fantasmas natalinos.

- Então seu fantasma, era isso que o senhor queria me mostrar? Que eu vou morrer velho e sozinho e, ainda por cima, tostado nos meus próprios contra-cheques??
- ...
- Quer dizer então que eu vou trabalhar a vinda inteira, encher o rabo de dinheiro, mas não vou ter mais nada? Minha vida vai ser meu trabalho? Não vou construir nada, não vou realizar nada, não vou inventar nada, nem vou salvar a humanidade. Projetos pessoais, realização pessoal, nada? Não vou escrever um livro, não vou plantar uma árvore nem vou ter um filho? Mas em compensação, vou ser sempre um funcionário exemplar??
- ...

A música fúnebre ficava mais alta, mas não era suficiente para abafar o barulho das chamas.

- E ainda por cima vou ser enterrado numa VÉSPERA DE NATAL???
- ...
- Fala alguma coisa, criatura imprestável!!

Tomado pela raiva, Overman arranca a capa do fantasma, mas no lugar de ver algum tipo de corpo por baixo, ele recebe um clarão daquela luz avermelhada nos olhos e perde novamente a visão.

Quando volta a enxergar, já não está mais no crematório. Ou melhor, está, mas não exatamente. Overman está agora dentro do caixão. O calor é intenso e algumas chamas começam a romper a madeira. Overman, ao perceber que aquele deveria ser o seu momento final, buscou dentro de si aquela que seria a sua última frase, e que deveria expressar, da melhor maneira possível, todo o seu sentimento diante de tudo aquilo:

- PUTAAAA QUE O PARIUUUU!!!!!!!!!!

***

Acordou. Estava deitado no sofá do seu apartamento. O copo de cuba estava firme na sua mão ainda. Sentiu a cabeça doer e rodopiar. Lá fora se ouviam fogos de artifício, pois já era meio-noite do dia de Natal. Sentou-se e respirou fundo. Largou o copo no chão. Um minuto depois, tocou o telefone. Levantou-se e atendeu.

- Alô... Mãe??...Ah é, feliz Natal.

FIM.

(Fim?)

terça-feira, 21 de dezembro de 2004

Conto de Natal da SIC - Parte III

(A saga de auto-piedade natalina continua. Leia o início da história nos posts anteriores)

Overman chamou o elevador. Enquanto esperava, não tirava os olhos do corredor, com medo de que a velhinha reaparecesse, para decerto mostrar mais algum daqueles natais passados. Como aquele em que ele foi na festa de confraternização da firma do pai, e ficou com medo do Papai Noel.

Chega o elevador e Overman entra desatinado, mal reparando na figura do ascensorista sentado no canto. Mas este em seguida se faz notar.

- Ae mano. Pra onde?

Overman estava ainda tentando racionalizar tudo o que tinha acontecido até agora, por isso a resposta saiu quase automática:

- Térreo.

Quando o elevador começa a descer é que Overman finalmente tem um estalo do que está acontecendo ali.

- Êpaaaa!!!! Desde quando esse prédio xinfrim tem ascensorista?? Não vai me dizer que...
- É nóis, mano. Tá ligado nas parada dos natal presente aí?

Overman bate com a mão espalmada na própria cara.

- Não, não pode ser. O fantasma do Natal presente é um "mano". Não me falta mais nada...
- Ae mano, respeito, tá ligado? Vamu chega numas parada de Natal de umas pinta aí.

Overman choraminga, mas fica em silêncio depois, protestar não ia adiantar mesmo. Assim que o elevador parasse ele dava no pé dali. Mas o elevador parecia ter descido muito mais do que os três andares que antes o separava do térreo. E descia cada vez mais rápido, ao ponto de Overman quase cair no piso. Até que parou. Tão bruscamente que ele teve a sensação de que ia ser esmagado contra o teto. Perdeu o equilíbrio com essa movimentação toda e se estatelou de vez no chão. O fantasma permanecia imóvel. Até que a porta abriu.

O plano de Overman de sair correndo alucinadamente dali direto para um hospício foi frustrado. No lugar do corredor do térreo do seu prédio o elevador parecia ter ido parar na sala de jantar de alguma casa, que Overman nunca tinha visto na vida. A sala estava apinhada de gente com roupas de festa conversando alegremente. Decoração natalina, comida sendo servida, enfim, a típica ceia natalina de propaganda de peru de Natal. Até que uma figura conhecida de Overman adentrou na sala.

- Aquele cara ali, eu conheço, é aquele incompetente puxa-sacos filha-da-mãe que trabalha comigo. E que ganha mais do que eu, óbvio.
-Cerrto mano. Preistenção.

A ceia rolava alegremente, e o colega de Overman distribuía sorrisos para todos os lados. Cumprimentava e era cumprimentado, comia, bebia, ria, se divertia. Overman, apenas cruzou os braços e olhou para o ascensorista-fantasma.

- Humpf. Qual o próximo andar?
- Opa, demorô.

A porta fechou e o elevador desceu mais ainda. Quando abriu a porta de novo, a cena era semelhante a anterior. Apenas o lugar e as pessoas mudaram. Em seguida Overman reconheceu seu chefe no meio das pessoas, posando para uma foto, com uma taça de champagne na mão. Overman não esperou muito desta vez.

- Próximo andar, por favor!!
- Tô ligado.

Dessa vez o elevador parou num lugar conhecido. E as pessoas também eram conhecidas. Era a sua família, ou o que restou dela, preparando a ceia de Natal. Sem ele, óbvio, que estava em outra cidade. O clima não era lá essas coisas. Parecia mais um velório do que uma véspera de Natal naquele lugar. Dessa vez Overman não foi agressivo com o ascensorista, apenas pediu calmamente:

- Mano, me leva de volta.
- É nóis.

Mas enquanto o elevador subia, Overman aproveitou para despejar a sua indignação em cima do fantasma.

- Então vem cá. Me diz um negócio. Isso tudo foi pra mim ver que esses caras que eu chamo de incompetentes, puxa-sacos, baba-ovos e coisas do gênero, esses seres que eu considero desprezíveis, desqualificados e sem moral, essas pessoas amorfas e descerebradas que trabalham comigo e que faço questão, sempre que posso, de diminuí-los, achincalhá-los, desprezá-los, cuspir na cara e fazer gozação deles no blog, esses caras na verdade tão cagando pra tudo que eu digo de mal deles? A minha indignação pela tem importância zero?
- Firrmeza.
- Eles tem a vida deles, a família deles, as namoradas, os carrinhos, os celulares que tiram foto e que por mais que eu me ache muito mais profissional e qualificado que todos eles juntos isso não faz a menor diferença!! E eu sou um inútil completo que não tem vida fora do trabalho e que quando chega a merda do Natal eles ficam lá ganhando tapinhas nas costas dos cunhadinhos advogados e eu fico enchendo a cara de cuba??
- É o 'squema mano.
- Puta que pariu.

A porta do elevador abre novamente. Desta vez, de volta ao terceiro andar do bom e velho prédio onde Overman mora. Ele sai em disparada em direção ao seu apartamento, sendo que o fantasma só teve tempo de dizer uma última frase:

- Ô mano, não rola uma "caixinha" pra nóis aqui não?? Ô...

Mas Overman já ia longe.

(Amanhã o grand finale...)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

2 Coisas:

1) Chegamos aos 8.000 acessos. Levamos coisa de uma ano e meio pra isso. Ê blogue xinfrim esse...

2) Ninguém comentou meu conto de Natal. Não escrevo mais. Emburrei. Humpf!

domingo, 19 de dezembro de 2004

Sobre o conto de Natal

Tá, eu sei que tá ficando uma merda e que ninguém vai ler mesmo. Mas eu ando com arroubos literários ultimamente, então vocês vão ter que me aguentar.

Conto de Natal da SIC - Parte II

(Leia a parte I no post de sábado)

Já era noite quando Overman tinha comido um resto de pizza do dia anterior e agora preparava a sua ceia de Natal: meia dose de vodka, meia dose de coca-cola, limão e gelo. Depois de entornar uma boa dose, a campainha do apartamento tocou. "Devem ser aqueles lixeiros que enchem o saco toda véspera de Natal", pensou ele. A campainha tocava insistentemente.

- Já vái, ô merda!! - abriu a porta - mas que porr...

Diante de sua porta não tinha nenhum lixeiro desdentado, mas sim uma velhinha sorridente.

- Oi meu filho. Sou sua vizinha aqui do 307. Posso te pedir um favor?
- Hã, vizinha? Mas eu nunca vi a senhora por aqui.
- É que eu não saio muito de casa, meu filho. Mas posso te pedir um favorzinho? É que a minha televisão não está funcionando direito. E hoje é véspera de Natal, não é? Eu queria poder ver a missa do galo mais tarde, eu podia ligar pra...
- Ok, ok. Eu vou ali, interrompeu ele. Na verdade queria era se ver livre daquilo e voltar para a sua "ceia" natalina.

Entrou no apartamento com a velhinha. Reparou que tudo ali dentro podia estar dentro de um antiquário, incluindo a dona do apartamento, que aparentava ser muito velha mesmo, ainda que estivesse bem lúcida. E quem não estava muito lúcido era Overman, já que a primeira dose que ele havia entornado a pouco começava a fazer efeito.

- Ó meu filho, é aqui a t.v.

A televisão estava ligada, mas a imagem aparecia distorcida. Na verdade, parecia ser um modelo tão antigo que devia ser um milagre que ela pudesse estar ligada.
Então Overman, imbuído de todo o seu conhecimento técnico a respeito de eletrônicos e afins, deu um tapão no tampo do aparelho. A imagem ficou surpreendentemente nítida, com se fosse uma tela de alta-definição passando algum DVD.

- Olha meu filho, deu certo. Tá passando um filme até! Senta aqui e olha só.

Overman sentou na poltrona ao lado da t.v. e achou aquele filme familiar. Mostrava uma grande familia em torno de uma ceia de Natal. E as pessoas lhe eram bem conhecidas.

- Perae!!! Eu já vi esse filme! Aquele guri cabeludo ali sou eu com sete anos!!! Ah, não, não vai me dizer que tu é...
- Isso mesmo meu filho, o fantasma dos natais passados!
- Caralho...
- Óóólha essa lingua! Presta atenção no filme, vai querido.

Era uma ceia de Natal de muitos natais atrás. Toda a familia reunida, risos, bebida, comida, brincadeiras com as primas, etc. Aquela coisa toda.

- Ô tia, o que é aquilo ali na minha cara?
- É um sorriso, meu filho.
- Ah é. Já tinha esquecido como fazia.
- Peraí querido, já vi que esse filme não te agradou muito. Deixa eu ver o que está passando nos outros canais.

E mudou de canal. A tela mostrava agora jovens sentados numa mesa de bar. Era o bar da faculdade, véspera do Natal do último ano de curso. Overman e seus colegas comentavam os planos e projetos para depois da formatura. Havia algum pessimismo no ar, mas a esperança era maior.
Mudou de canal de novo. A véspera de Natal agora era mais recente, um pouco antes de Overman começar a trabalhar, ele estava reunido com menos familiares, um pouco emburrado porque não conseguia arranjar emprego, mais ainda celebrando a data.
Mais um canal. Era a véspera do Natal passado. A imagem mostrava Overman deitado na cama do seu apartamento, dormindo, depois de ter degustado aquela sua "ceia" de Natal característica.

- Chega né, meu filho? Concluiu alguma coisa?

Overman estava zonzo. Mas juntou forças para responder.

- Isso tudo quer dizer que eu, antes de ser um desinfeliz que preferiu morar sozinho e trabalhar feito uma mula para encher o cú de dinheiro, era um carinha legal e feliz. Idiota, mas feliz. E que na verdade, o meu ódio pelo Natal não passa de recalque por estar ralando o cú todo dia e mesmo assim me sentir um inútil? Era essa a conclusão que eu tinha que chegar?
- Mas que lingua suja, hein?
- Era ou não era?
- Não sei querido. Sou apenas uma velhinha.
- Com licença. Pra mim chega. Devo estar ficando louco.

Levantou-se e foi embora. Mas não voltou direto para o seu apartamento. Decidiu que precisa tomar um ar e foi em direção ao elevador.

(Continua...)

sábado, 18 de dezembro de 2004

Conto de Natal da SIC - Parte I

Overman tentava não cochilar em pleno expediente, numa quente e enfadonha manhã de véspera de Natal, aquelas em que funcionários mais rasos como Overman eram obrigados a cumprir meio turno. O sono era grande e Overman não resistia. Mas, pouco antes de cair de nariz no teclado, Overman ouviu uma voz familiar lhe chamando. Olhou pra trás e qual foi a sua surpresa ao ver, em pé diante de si, um dos seus professores da época da faculdade. Usava a mesma roupa da última vez que o havia visto, além de trazer o seu velho telefone celular do tamanho de um tijolo na cintura.

- O que tu tá fazendo aqui?? - perguntou.
- Overman, Overman, olha pra ti, meu rapaz. Tu nem parece mais o guri promissor que eu conhecia, tsc, tsc. A priori, meu caro, vim aqui te dar a real - os outros funcionários da empresa, que naquele dia não eram muitos mesmo, pareciam não perceber a presença do professor.

- Que real?
- Sabe que dia é hoje?
- Um dia como qualquer outro?
- Não! Hoje é véspera de Natal.
- Putz. Odeio Natal.
- Eu sei, por isso que estou aqui. Vim te dar um recado. Hoje Overman, tu serás visitado por três fantasmas e...
- Puta, era esse meu medo...
- Cale-se!! - o professor parecia flutuar no ar agora - Preste atenção. A priori, o primeiro a chegar será o fantasma dos natais passados. Sistematicamente depois, o fantasma do Natal presente e por fim...
- O fantasma dos natais futuros...
- Isso. Boa sorte e vê se aprende alguma coisa. Não vá se tornar uma alma penada assim como eu.
- Alma penada? Não sabia que tu tinha morrido.
- Já faz tempo. Na verdade, na época que tu estudou naquele curso daquela universidade mediocre, eu já era uma alma penada. Conheces pena melhor do que dar aula naquela pocilga por toda a eternidade?
- Isso explica como tu conseguia dar tantas aulas ao mesmo tempo, no mesmo semestre...

Acordou. Tinha cochilado em cima do teclado e o apito do speaker do computador o despertou. Na tela apareciam caracteres aleatórios que ele devia ter digitado com a cara enquanto cochilava, ou algo assim. Foi lavar o rosto e esqueceu do sonho, almadiçoando ainda mais aquele dia, que ele detestava tanto. O que não sabia é que, se os caracteres "aleatórios" fossem lidos de trás pra frente, a seguinte mensagem teria surgido:

"HOJE, 9H DA NOITE. PRIMEIRO FANTASMA. A PRIORI, APROVEITE. G."

Mas ele apagou o texto e foi embora. Já era meio-dia.

(Continua...)

sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

Para os curiosos

Se alguém mais ficou curioso como eu a respeito do post do Overman, que traz um trecho de um conto de Lima Barreto, vou colocar um link interessante:

- Contos de Lima Barreto.

Incluindo, claro o "Três Gênios da Secretaria".

quarta-feira, 15 de dezembro de 2004

Enquanto isso, à um tempo atrás

"Mas, como dizia, todos nós nascemos para funcionário publico. Aquela placidez do ofício, sem atritos, nem desconjuntamentos violentos; aquele deslizar macio durante cinco horas por dia; aquela mediania de posição e fortuna, garantindo inabalavelmente uma vida medíocre - tudo isso vai muito bem com as nossas vistas e os nossos temperamentos. Os dias no emprego do Estado nada têm de imprevisto, não pedem qualquer espécie de esforço a mais, para viver dia seguinte. Tudo corre calma e suavemente, sem colisões, nem sobressaltos, escrevendo-se os mesmos papéis e avisos, os mesmos decretos e portarias, da mesma maneira, durante todo o ano, exceto os dias feriados, santificados e os de ponto facultativo, invenção das melhores da nossa República."

- Trecho de "Três Gênios de Secretaria", conto de Lima Barreto. Brás Cubas, Rio, 10/04/1919.

terça-feira, 14 de dezembro de 2004

Desestressando

Whack your boss...

domingo, 12 de dezembro de 2004

Tipinhos Típicos do Ambiente de Trabalho: o Chefe-Arara

Para esse tipinho eu vou pular direto para um estudo de caso. Não, eu nunca tive um chefe-arara, graças ao grande Inútil do Céu. Mas já pude ver a ação de um exemplar da espécime. Trata-se do chefe da área de tecnologia de um cliente aqui da empresa que eu trabalho. Vamos a algumas historinhas do chefe-arara.

Em reuniões ele mostra quem manda: corta a fala dos outros, sai no meio quando se enche do assunto, acaba com a reunião quando não concorda com nada e cospe palavrões e grosserias a torto e direito. Também "invade" reuniões alheias quando quer usar a sala.

O e-mail deve ter sido inventado por um chefe-arara. Como ele adora esculachar os outros por e-mail, usando todo o sarcasmo, ironia e grosseria desenvolvidos em anos de experiência. Com cópia pra todo mundo, óbvio.

Ainda sobre e-mail, teve uma vez que um colega meu mandou um para o pessoal do setor do Arara, fazendo uma pergunta sobre um dos projetos que temos com eles. Passou um, dois, três dias e nada de alguém responder. Até que um dia o Arara mandou o seguinte e-mail para todos: "Alguém já respondeu ao Fulano???". Dois segundos depois, o meu colega deve ter recebido resposta até da tia que serve o café. Bem ou mal, o Arara deve ser o tipinho mais respeitado de qualquer ambiente de trabalho.

A última história é lendária e é passada de geração para geração lá na empresa. Conta-se que o projeto entre as duas empresas (a minha e a do Arara) estava praticamente pronto. Então o Arara saiu de férias em Janeiro (a propósito, já falei que eu saio de férias em Janeiro próximo?) e o resto do pessoal ia só sair em Fevereiro. Quando o Arara voltou, começou a revisar alguns pontos do projeto e descobriu uns furos. TODOS os outros estavam de férias, mas o Arara não quis nem saber. Chamou um por um e tirou o pessoal todo da folga. Reza a lenda que um dos caras chamados estava em plena praia quando o celular tocou.

O que torna possível a existência de chefes-araras nestes tempos de bom-mocismos, hipocrisias e "psicologias" nas empresas? Simples. O Arara é competente pra caralho. Não tá nem aí pra nada, sabe que ele manda e que os outros obedecem. É um cara que se preocupa com resultados, não com aparências. Por isso, nenhum diretor tem coragem de demitir um chefe-arara. Mas calma, não quero dizer que eu seja um admirador da espécie.

Pelo menos não totalmente...

"Formal day"

Na sexta passada a empresa recebeu uma vi$ita importante para os diretores. Alguns inve$tidore$ vieram conhecer onde eles estavam se socando.

Como preparação para a tal visita, pediram para que todos os funcionários viessem muito bem vestidos. Tênis e camiseta seriam considerados pedidos de demissão. E assim foi, aquilo mais parecia um sarau que uma empresa de software.

Agora me diz, adianta mesmo alguma coisa isso tudo? Acho até que atrapalha, duvido que exista mesmo alguma empresa neste ramo onde todos sejam assim tão almofadinhas! Só posso pensar em uma explicação para isso, é a velha história do bolo:"onde faltar recheio, capriche na cobertura", ou algo assim.

Ou será mesmo que alguém pensa que quanto mais "bonitos" todos estiverem, melhor será o produto final?

segunda-feira, 6 de dezembro de 2004

E o salário, ó...

Hoje estou me sentindo um asno. Pior, um asno inútil. Hoje é aquele dia tão feliz que todos esperam com tanta ansiedade todo o mês. Óbvio que tô falando do pei-dei, o dia que a generosa empresa a qual trabalho tão bondosamente me dá um agrado pelos serviços que eu presto com tanta alegria.

Bem, agora em Novembro deveria ter entrado o reajuste para o ano de 2004, acordado com o sindicato. Só que...

Vamos por partes. Primeiro, como eu recebo meu salário. Acontece que eu me nego prontamente a ser terceirizado. Prefiro vender pamonha na praia a ser terceirizado. Então, quando eu entrei para a empresa, me ofereceram uma "alternativa". Uma parte do meu salário seria em carteira, com os descontos bonitinhos em folha e tudo. E outra parte seria "por fora", "caixa 2", "na mocosa", etc. Na época, aceitei, pois tava muito desesperado
para sair do meu emprego anterior, aquela empresa em que o Hardy já é vice-presidente atualmente. E afinal de contas, eu ia ter meus direitos assegurados, anyway.

Vou dar um exemplo, sem os valores reais, óbvio, de como eu recebia o salário até Outubro passado:

CLT: R$ 400,00
Caixa 2: R$ 600,00

E agora, no salário de Novembro, vamos supor que o reajuste tenha sido de R$ 50,00. Olhem só o que apareceu no meu extrato bancário:

CLT: R$ 450,00
Caixa 2: 550,00

Entenderam? Entenderam? Que beleeezaaaa!!!

Resumindo, não recebi PORRA de reajuste nenhum. Meu salário continua o MESMO. O tal "reajuste" foi só pra mostrar na folha. VÃOSIFUDÊ...Se isso tivesse acontecido mês passado...

E o pessoal da Olimpo S/A deve estar rindo da minha cara nesse instante.

Mas tudo bem, tudo bem. Já contei pra vocês que em Janeiro eu saio de férias?

sábado, 4 de dezembro de 2004

O Homem que Mandava SPAM

Quem ainda não recebeu aqueles e-mails inconvenientes sem pé nem cabeça que atire o primeiro mouse. Nem estou falando exatamente em SPAM, mas sim naqueles e-mails que certos colegas e amigos desprovidos de massa encefálica nos mandam, achando que são sérios, do tipo "americanos ensinam que a amazônia não pertence ao Brasil" e etc...

Pois então. Logo que eu entrei no meu atual emprego um gerente mandou um e-mail pra todo mundo, dizendo que a lista de e-mails interna da empresa não podia ser usada para assuntos off-topic. Tudo porque alguns Joselitos estavam usando a lista para marcar um jogo de futebol e um tempo antes uma estagiária-patty tinha convidado todo mundo pro seu "níver". Tudo bem, não era nada de mais, mas tava incomodando os grandões da empresa.

Só que, um diretor da empresa, isso mesmo, diretor, nunca deu muita atenção pra isso. Afinal, é por isso que ele é diretor. E uma semana sim, uma semana não, nosso amigo chefão manda e-mails acéfalos para TODOS os funcionários. Já rolou propaganda de candidato a vereador, piada cretina, aquele do livro de geografia americano que diz que a Amazônia não pertence ao Brasil, e por aí vaí. O último dizia que americanos estavam tomando conta de reservas indigenas em Rondônia e não deixavam mais brasileiros entrar nelas. Tudo para explorar as riquezas da nossa querida e idolatrada Amazônia (sempre ela).

O diretor foi repreendido alguma vez? Não.

Faça o que eu digo mas não faça o que faço. A não ser que você seja diretor.

Vestindo a camisa da empresa

No inicio desse ano a empresa distribuiu camisetas pra todo mundo. Eu era novo lá e acabei pegando uma e, pasmem, cheguei a usar várias vezes. Agora distribuiram a versão 2005 da camiseta e eu planejava me esconder pra não ter que levar uma. Mas a secretária-recepcionista-faz-tudo-que-tá-cada-dia-mais-gorda da empresa me achou e tive que levar uma.

Mas legal até. Eu tava precisando de um pano de chão novo mesmo.

Trabalho

Nada como um dia de folga para achar graça na história da palavra “trabalho”, que surpreende muita gente: é filha do latim tripalium, um instrumento de tortura. Isso mesmo, aquele que “enobrece e dignifica o homem” descende de um outro que foi concebido para função bem diferente: fazer sofrer terrivelmente, aviltar o homem. Chocante?

Mais aqui.

Bom dia!

São 8:00 da manhã de um sábado, eu estou trabalhando, e vocês? Ah, e eu trabalhei até a 01:00 da manhã de hoje, portando dormi menos de 6 horas de ontem para hoje. E daí?! Daí nada, só quis dizer ... Inútil só pode reclamar mesmo.