quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Brazzzil, o maior custo de vida do planeta

Quando eu falo isso, em qualquer situação, para qualquer pessoa, invariavelmente sou acossado, rechaçado, rotulado como ignorante ou fora da realidade... Todavia, se o caro inútil for pesquisar comparativamente o preço de absolutamente qualquer coisa, qualquer produto ou serviço, verá que o título deste post retrata a mais triste e dura realidade. Embasando com exemplos aleatórios, mas sempre do mesmo produto/serviço/modelo:


USA x BRA | (dólar americano) U$ 1,00 = R$ 1,76
gasolina
USA: U$ 2,85 /gal = U$ 0,66 /l = R$ 1,16 /l
BRA: R$ 2,85 /l
energia
USA: U$ 0,06 /KWh = R$ 0,10 /KWh
BRA: R$ 0,43 /KWh
tv a cabo
USA: U$ 12,95 /mês = R$ 22,79 /mês
BRA: R$ 139,00 /mês

UK x BRA | (libra esterlina) £ 1,00 = R$ 2,85
pão de sanduíche
UK: £ 1,10 /500g = R$3,13 /500g
BRA: R$ 3,69 /500g
espuma de barba
UK: £ 2,99 /200ml = R$ 8,52 /200ml
BRA: R$ 21,00 /200ml

FRA x BRA | (euro) E 1,00 = R$ 2,59
bateria eletrônica alesis
FRA: E 499,00 = R$ 1.292,45
BRA: R$ 2.800,00
playstation 3 slim
FRA: E 289,00 = R$ 748,51
BRA: R$ 1.299,00

CAN x BRA | (dólar canadense) $ 1,00 = R$ 1,66
cafeteira cuisinart
CAN: $ 79,00 = R$ 131,14
BRA: R$ 649,00

BEL x BRA | (euro) E 1,00 = R$ 2,59
camiseta nike
BEL: E 19,95 = R$ 51,67
BRA: R$ 99,00

ALE x BRA | (euro) E 1,00 = R$ 2,59
netbook acer
ALE: E 299,00 = R$ 774,41
BRA: R$ 1.099,00

ARG x BRA | (peso argentino) P$ 1,00 = R$ 0,46
bmw mini cooper
ARG: P$ 127.000,00 = R$ 58.420,00
BRA: R$ 95.000,00

URU x BRA | (peso uruguaio) P$ 1,00 = R$ 0,09
filé mignon
URU: P$ 170,00 /kg = R$ 15,30
BRA: R$ 37,00

JAP x BRA | (iene) Y 1,00 = R$ 0,02
left 4 dead 2 pc game
JAP: Y 6.280,00 = R$ 125,60
BRA: R$ 299,00

CHN x BRA | (iene) Y 1,00 = R$ 0,02
sony w760 desbloqueado
CHN: Y 2.385,00 = R$ 47,70
BRA: R$ 699,00

AFR x BRA | (rande) R 1,00 = R$ 0,23
ck one
AFR: R 525,00 /100ml = R$ 120,75 /100ml
BRA: R$ 159,90 /100ml

IND x BRA | (rúpia) Ru$ 1,00 = R$ 0,04
Dan Brown's lost symbol
IND: Ru$ 649,00 = R$ 25,96
BRA: R$ 29,90

TCH x BRA | (coroa tcheca) CZK 1,00 = R$ 0,10
cerveja na pressão
TCH: CZK 12,00 /500ml = R$ 1,20
BRA: R$ 7,00 /500ml

AUS x BRA | (dólar australiano) $ 1,00 = R$ 1,59
aluguel na praia de copacabana com vista para o mar
AUS (casa, sidney bay): $ 38,00 /pessoa/noite = R$ 60,42 /pessoa/noite
BRA (apartamento, rio de janeiro): R$ 120,00 /pessoa/noite

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A norma, pelo leigo

Você já seguiu alguma norma técnica de engenharia, como uma NBR ou uma ISO, aprovada por um iletrado?
Você já viu algum tratado da medicina, publicado em uma renomada revista médica, assinado por alguém que não completou o primário?
Você já soube de algum artigo científico, participante em algum congresso ou evento, publicado por alguém que não sabe fazer uma regra de três?
Você já leu alguma obra literária, como um romance ou um poema, escrita por um semi-analfabeto?
E você prega e obedece as nossas leis e regulamentos do Direito? Mas por que tipo de pessoa eles foram escritos e promulgados?
Advogadinhos de plantão, podem xingar à vontade... para isso existe "democraticamente" a área de comentários...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

"A criatividade e o trepalium" 
ou "O ócio e a preguiça"


É fato indiscutível na filosofia que toda criatividade se origina do ócio. Não entendam ócio como o pecado da preguiça, conforme definido por um inútil pedófilo católico (os "sete pecados capitais" foram enumerados e agrupados no século VI, pelo papa Gregório Magno). A preguiça é um vazio, uma escolha consciente pela ausência de ação, nada produzindo como resultado.
O ócio é aqui considerado como um estado livre da consciência; livre de restrições que impedem a formação, maturação e expressão de idéias criativas. Não entenda também como criatividade apenas a originalidade de produção de obra artística. Criatividade é mais do que isso; é a capacidade de abstrair sobre um tema e produzir um resultado, em forma de simples conceito, teorema, invento, peça literária, musical ou plástica, passível de interpretação pelo espectador, rementendo-o tanto ao tema original imaginado pelo autor (caracterizando uma obra literal, a interpretação é fiel ao ato inicial), quanto a destinos distantes, ou mesmo opostos (neste caso gerando um novo processo criativo no observador, pela imaginação a partir da observação). A "arte", enfim, não está necessariamente vinculada a um processo criativo, nem este sempre resultará em uma obra artística.
Já o processo mental de execução de um trabalho, caracterizado em geral pela necessidade de solução de problemas específicos e, na maior parte das situações, repetitivos, é criativamente nulo. Hão de discordar os fantásticos-profissionais-pró-ativos-gênios-criativos, mas por mais criativa que pareça, estatisticamente se confirma que existem poucas variantes de soluções para um determinado problema. Embora alguns indivíduos se mostrem mais eficientes que outros na execução de uma mesma tarefa, basicamente o trabalho se resume em aplicar um conjunto limitado de ferramentas para obtenção de um resultado presumido.
Para provar que o processo criativo não se aplica ao trabalho cotidiano, basta ver que, de todos os inventos tecnológicos ou artísticos da humanidade, raríssimos foram criados "sob encomenda". E os que foram, sem sombra de dúvida, sempre mostrarão os sinais de comedimento do criador, limitado por diretrizes externas, para o atendimento das especificações. Assim, mesmo o trabalho dito puramente de criação não o é de fato , visto que inexiste o estado inicial de liberdade de pensamento.
Por isso, como qualquer trabalho pode ser (e, em geral, é) executado por intelectos inferiores, tantos bons profissionais são frustrados e estressados. A necessidade pela produção em massa, pelo resultado normatizado e pela urgência do retorno financeiro, são perversidades de nossa época que castram a criatividade. Nestes nossos tempos, o ócio constitui pecado gravíssimo, e o ocioso, mesmo quando criativamente muito produtivo, é taxado de inútil.
Enquanto esta mentalidade materialista prevalece, deixam de ser criadas grandes obras para serem formados grandes vícios ou tumores - doenças características do frustrado. Já a preguiça é até bem aceita, e mesmo sutilmente estimulada, enquanto fator que impede a utilização do intelecto para avaliação dos fatos, formação de opinião e tomada de atitude - termos que hoje em dia tem o significado distorcido para serem, respectivamente, sinônimos de aceitação do noticiado, alinhamento com a massa e acomodação.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

O surdo

Ele não frequentou os mesmos tipos de escolas, portanto não tem a mesma formação que os outros inúteis do time, mas têm o mesmo cargo e o mesmo salário. Suas habilidades de se comunicar são muito restritas: ele não entende nada que tu escreve e vice-versa, pois o português-libras que ele aprendeu (e não faz a menor questão de evoluir à norma culta) simplesmente não serve para se comunicar com não-surdos.
Ele não tem papel nenhum na equipe, os gerentelóides não sabem o que fazer com ele, jogando a responsabilidade de "babá" para o "aspira" mais novo. Ele também não se esforça em demonstrar ser capaz de fazer alguma coisa além de ficar teclando nos mensageiros on-line, navegar em sites inúteis e baixar/ver filmes (sim, ele BAIXA torrents no trabalho e ASSISTE filmes inteiros) no horário de expediente. Ele não faz nem questão de se comportar como ser civilizado, tossindo escrachadamente de boca aberta ou fedendo a chubosa com frequencia.
Demitir esse cara não tem resultado prático pois a empresa pagaria todas as obrigações e teria o trabalho de RH desperdiçado para contratar outro exatamente igual, já que o nosso sábio legislativo assistencialista barato obriga a existência de deficientes nas organizações (através do injusto e deliciosamente perverso sistema de quotas). Ele nunca vai se demitir, pois está no seu sagrado direito de ser incompetente e inútil, ocupando um cargo para o qual não serve nem tem a menor pretensão de servir, já que nada lhe é cobrado, em termos de desempenho ou mesmo postura, com todos (ou a ampla maioria) lhe tratando como uma criança mimada, cheia de privilégios incontestáveis. E que ninguém os conteste nunca pois, além de ser taxado imediatamente como maldito nazista preconceituoso com os deficientes, o tal pode ser demitido por justa causa.
Embora o título deste post não indique, que fique aqui claro que também coloco todos os outros deficientes ineficientes nesse mesmo balaio, para que possam se sentir injustiçados e discriminados por este que lhes escreve. Em minha defesa vos digo: já trabalhei em equipes onde haviam cegos e surdos e este é o conceito (conforme definição do post anterior, entendam: pós-conceito) que tenho deles. Não estou dizendo que é impossível existir deficientes úteis; eu apenas não os conheço, talvez pela estupidez dos RH de plantão, que contratam cegos para tarefas de precisão ou surdos para tarefas de comunicação, ou pela postura de acomodação ao assistencialismo, que deve ser sempre condenada, mas com mais veemência em sua origem do que em seus desfrutadores.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Conceito e preconceito

Antes de começar a escrever os próximos posts, quero deixar bem claro a diferenciação destes termos, então, primeiramente de acordo com o dicionário e depois com meus tradicionais exemplos.

conceito
s. m.
1. Mente (considerada como sede das concepções).
2. Opinião, ideia, juízo (que se faz de alguém ou de alguma coisa).
3. Dito engenhoso.
4. Reputação (usado com os adjectivos bom ou mau).
5. Expressão sintética; síntese.
6. Moralidade (duma fábula, dum conto, etc.).
7. Parte final e elucidativa duma charada.
Ex.:
"Esse surdo que trabalha na equipe é um incompetente e preguiçoso."
"O rabino Luís é extremamente avarento."
"Meu avô era um italiano mal-educado e irritadiço."
"Eu sou gordo e sedentário, portanto tenho dificuldades em me movimentar agilmente."
"Formei péssimo conceito sobre Joana após ter participado de seu grupo de estudos."

preconceito
s. m.
1. Ideia, conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério.
2. Estado de abusão, de cegueira moral.
3. Superstição.
Ex.:
"Pretos são indolentes."
"Esses velhos abusados acham que tem direitos acima dos outros."
"Judeus são sovinas."
"Gordos são preguiçosos."
"Isso é bem coisa de japonês."


sexta-feira, 5 de junho de 2009

Migalhas para o pão, diamantes para o circo

Batendo incansavelmente numa das preferidas teclas destes inúteis escritores, hoje me inspirei a vomitar sobre os rendimentos médios de exemplares de algumas áreas do conhecimento humano. Como bom inútil, não vou referenciar as fontes exatas dos dados. Em linhas gerais, foram coletados do IBGE, Revistas ISTOE, Placar, Forbes, etc. Se você é um daqueles otimistas deslumbrados, apenas acredite que eu estou mentindo, distorcendo a informação. Mas não estou. 

Portanto, os dados abaixo apresentados estão propositadamente representados de forma a não serem tão precisos, mas são verídicos. A minha conclusão óbvia já está no título deste post. Tire suas próprias.

Todos os valores de renda abaixo são referentes às grandes regiões metropolitanas do meu Brazzzil varonil e expressos em reais/mês.

PÃO:
Média da indústria: 1.400
Média do comércio: 1.100
Média do setor de serviços: 1.800
Média do setor de construções: 1.000
Média suposta para o setor informal: 1.200
Média do setor de educação: 1.600
Média do setor de saúde: 1.700
Média dos funcionários públicos: 1.500
Média dos trabalhadores da informática: 1.800

CIRCO:
Média do setor de entretenimento: 2.500
Média dos músicos: 2.700
Média dos artistas de tv/cinema: 5.200
Média dos esportistas: 6.000
Média dos jogadores de futebol: 7.500
Média dos políticos (considerado por mim como circo): 8.400

Tendo isto estabelecido, vamos aos casos específicos:

PÃO: 
Josicreide, empregada doméstica: 480
Márcio, estagiário de enfermagem: 700
Luisnilton, gari: 850
Alexandre, programador: 1.300
Jussara, RH: 1.100
Vera, professora: 1.500
Gilberto, bancário: 1.600
Uilson, pedreiro: 900
Diogo, vendedor: 1.100
Istanislau, padeiro: 750
Severino, camelô: 1.000
Garcia, policial: 1.800

CIRCO:
Ronaldo Nazário, jogador de futebol: 1.100.000
Fausto Silva, apresentador: 1.200.000
Giba, jogador de vôlei: 650.000
Paulo Coelho, escritorzinho: 500.000
Rogério Ceni, goleiro: 300.000
Jô Soares, humorista: 350.000
Paulo Paim, senador: 60.000
Zezé di Camargo, cantor: 430.000
Miguel Fallabela, ator: 280.000
Lair Ribeiro, palestrante: 150.000
Benedito Rui Barbosa, novelista: 180.000
Fátima Bernardes, jornalista: 170.000


terça-feira, 2 de junho de 2009

Nós, os losers

E aqui estamos em mais um belo dia (deve estar, não enxergo a rua) de trabalho. Pra quem não sabe a etimologia da palavra (pra quem não sabe o que é etimologia, recomendo fortemente desistir do SIC e ir ler Maurício de Sousa), o termo vem do Latim tripalium (ou trepalium), "instrumento romano de tortura", que era uma espécie de tripé formado por três estacas cravadas no chão, no meio das quais ficava meio suspenso meio empalado o escravo.
Aqui estou eu, apenas mais um desses empalados pela civilização, sentado na minha cadeira ruim, engolindo meus Bufo paracnemis (sapo-boi) e vomitando minhas inutilidades neste inútil blog. Hoje então tocarei (novamente...) nesse assunto que rege a vida da esmagadora maioria dos hominídeos: o inegável fato de ser um perdedor.

Acredito que todos os inúteis que alguma vez já vomitou por aqui tocou nessa ferida, mesmo que indiretamente, pelo menos uma vez. É uma realidade dura e verdadeira. Não importa se você é um otimista deslumbrado ou um emo-pessimista depressivo... o fato inegável é: se você está lendo isso, você é um LOSER.
Como dizem os motherfucking fat american asses, LOSER (perdedor, na tradução literal), na definição deste inútil, é aquele que não alcançou, nem tem possibilidade de alcançar, um status de indepência pessoal que possibilite uma vida livre e desobrigada. Como de costume, vamos às "regrinhas gerais" para definição do LOSER:

1) Você tem hora para tudo: para acordar, para pegar a condução, para chegar, para almoçar, etc.
2) Você não tem hora para nada: para fazer suas coisas pessoais, para contemplar um pôr do sol, para relaxar ouvindo um cd inteiro, ...
3) Você já teve alguma doença que pegou das aglomerações: geralmente viroses
4) Você já passou mal depois de comer
(não propositalmente) algo sem cuidado no preparo: diarréias, desidratação, infecções alimentares, verminoses
5) Você já precisou se submeter a um transporte público absurdamente lotado
6) Você tem celular, deixa ele sempre ligado e sempre atende quando toca: que saudade do tempo em que não havia a "escravidão pela rede" (hummm, ótimo assunto para um futuro post)
7) Sua condução já lhe deixou na mão no meio da rua: carro ou ônibus pifado, greve do transporte público
8) Você já foi esculachado por outros e não pôde reagir: ou se conteve, por várias razões com as quais só perdedores se preocupam
9) Você não participou/participa da educação de algum de seus filhos
10) Você já pensou em se matar: em caso afirmativo, mesmo que você esteja na lista dos mais milionários da Forbes (e, principalmente se estiver), você é LOSER
11) Você já teve doenças provocadas por atividades estressantes e repetitivas: L.E.R., outras doenças relacionadas ao stress
12) Você já precisou cortar gastos básicos no seu orçamento pessoal ou familiar: quase ninguém concorda, mas, na minha opinião, se você é pobrão, remediado ou classe média, você pode até não "ser" um perdedor em essência, mas "está" perdedor nesse momento
13) Você já foi assaltado na rua: somente pessoas que moram em locais genuinamente LOSERS presenciam ou são assaltos fora de locais de grande tentação, como bancos ou joalherias
14) Você já jogou na raspadinha, no bicho ou na loteca: se você arrisca pouco para ganhar muito pouco, obviamente você é um perdedor nato
15) Você trabalha por necessidade e não por escolha: novamente muitos não vão concordar, mas esse para mim é um dos maiores definidores do perdedor, ter que vender sua liberdade por míseros dinheiros
16) Você não gosta do seu trabalho: isso apenas corrobora a regra anterior, mostrando o quanto você é perdedor para ter que aguentar ser escravo sem mesmo poder escolher a senzala
17) Você se submete à alguém em troca de algum tipo de status: isso vale para aqueles LOSERS que se submetem à outro LOSER no intuito de usurpar o que possui (ex. marias chuteira, "fagundes")
18) Você aceita que alguém se submeta a você em troca de algum tipo de status: é uma via de mão dupla; tanto o que usurpa, como o que aceita conscientemente o usurpador (ex. jogadores de futebol, "chefinhos") são perdedores
19) Você tem a necessidade da tragédia: se interessa por histórias de desgraças, notícias de tragédias, sofrimentos alheios, comenta com os outros perdedores, assiste o jornal nacional ou similares, etc.
20) Você se acha ganhador simplesmente pelo fato de existirem outros perdedores além de você: na minha opinião, o pior tipo de LOSER é aquele que sempre usa os bordões "podia ser pior" ou "fique contente, tem gente pior que você" pois, além de estar usando a desgraça alheia como bálsamo (vide regra anterior) ainda tenta se/te convencer que isso o faz um ganhador (síndrome do deslumbrado)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Dicas para as pessoinhas
em resposta às "dicas para as pimentinhas"

Depois de terem sido colocados escassos vasos estúpidos com plantas no andar onde trabalho, pequenos vasos de "plantinhas" serem dados a cada equipe e enviado, pelo gerentão do andar, uma pérola de e-mail com instruções de cuidados para as malditas "plantinhas", decidi escrever um post retaliando com instruções de como tratar das "pessoinhas" que as co-habitam. Então toma.

1) Pessoinhas precisam receber sol de vez em quando, pelo menos uma vez por semana, antes das 10 da manhã ou depois das 4 da tarde.
2) Pessoinhas precisam de ar puro, não podem viver confinadas em ambientes herméticos pois há o risco de epidemias de doenças e outros mal-estares.
3) Pessoinhas precisam que a umidade do ambiente esteja entre 50 e 90 por cento, para que não desenvolvam sintomas respiratórios, alérgicos, desconforto nas mucosas e sejam, então, mais produtivas.
4) Pessoinhas trabalham melhor com temperaturas entre 20 e 24 graus, não importando a estação do ano.
5) Pessoinhas produzem mais e melhor quanto mais baixo for o ruído do ambiente.
6) Pessoinhas produzem mais e melhor quanto menores forem as interrupções ao seu trabalho.
7) Pessoinhas, assim como plantinhas, são de diferentes tipos, portanto, às vezes, são necessários cuidados específicos no tratamento de cada uma delas.
8) Pessoinhas ficam doentes às vezes e precisam receber cuidados especializados. Para isso é necessário que se mantenha atualizada a carteirinha do plano de saúde.
9) Pessoinhas, na nossa área de trabalho, passam 80% do seu dia útil na posição sentada, portanto precisam de acomodações que permitam manter sua saúde física e produtividade.
10) Pessoinhas gostam de agrados, mas têm condições de avaliar a utilidade e o resultado de tais, portanto, colocar plantinhas num ambiente sujo, fedido, feio, seco, quente, nada ergonômico, barulhento e cheio de outras pessoinhas desagradáveis, NÃO MELHORA EM NADA O TESÃO PARA O TRABALHO E AINDA OFENDE A INTELIGÊNCIA DOS POUCOS QUE AINDA A TÊM.

Pega ladrão!

Eu não gosto desse tal do Gabriel, o auto-intitulado pensador, mas respeito qualquer um que, de alguma forma pública, protesta contra essa merda toda que tá aí.
Então, veja e divulgue: http://www.youtube.com/watch?v=0RkXCrOLZnY

terça-feira, 26 de maio de 2009

O progresso da tecnologia

Nos últimos, digamos, cinco séculos, a grande característica da história da nossa espécie é, sem sombra de dúvida, a inovação tecnológica. Não é apenas um termo "da moda", é a mais pura e óbvia realidade. Em praticamente todas as áreas da ciência, grandes avanços ocorreram e permitiram-nos chegar à esta belíssima situação atual. Ok, não irei atacar o mundo contemporâneo e sua pressa irracional pela novidade e eficiência... apenas minha própria área.

Para os que não sabem sou um "informata". Podem me chamar também de geek, nerd, infolunático, CDF, mister roboto, quatro-olho, tecnosexual, garoto de programa, etc.
Como "tô nessa" já faz bastante tempo - comprei meu primeiro computador PC em 1989 - e como bom e "opinativo" inútil, às vezes me dou o direito de me achar capacitado para analisar (ironicamente) filosoficamente as questões técnicas e humanas relacionadas ao assunto. Então, vou escrever aqui breves proposições (absurdas) comparativas entre o progresso de outras áreas da tecnologia e a tecnocracia informática.

1) Se a lâmpada tivesse sido inventada por um informata, ela seria compatível com alimentação à querosene.
Mas ela não iluminaria bem. Parece loucura? Pois considerem a absurda necessidade de backward compatibility nos novos produtos informáticos, que perceberão o que estou dizendo. O novo windows não resolve os problemas dos anteriores porque precisa, em última análise, funcionar de forma muito parecida com seus antecessores, para que não se quebre a possibilidade ridícula de usar programas caquéticos sobre um sistema operacional novinho em folha.
2) Se os trens fossem feitos por informatas, haveria novos modelos a cada duas semanas.
É claro que, muitas vezes, as diferenças seriam em detalhes absurdamente inúteis, como a cor da pintura e o índice de refração das janelas, mas, muitas outras vezes, seriam em coisas seriamente perigosas como a quantidade de rodas, o tipo de freio ou o combustível do motor. Nunca se viu em outras áreas da ciência uma necessidade tão absurda por novidade. E o pior é que essa irracionalidade introduzida pela informática já se espalhou para várias outras áreas.
3) Se os carros fossem feitos por informatas, eles seriam comparativamente piores que os da década passada.
Imaginem carros de quarenta toneladas, que não funcionam por mais de três horas sem serem desligados, recheados de defeitos antigos, já solucionados em algum ponto do passado, mas que voltam inexplicavelmente depois do lançamento de um novo modelo. Isso sem contar que, a cada modelo, a segurança para o usuário seria menor que a do anterior, até que fossem inventados novos aparatos tecnológicos para resolver o mesmíssimo problema. E não iam funcionar em qualquer estrada.
4) Se remédios fossem criados por informatas, teríamos drogas para doenças inexistentes e efeitos improváveis nas curas das doenças tradicionais.
Uma das grandes burrices da informática é criar soluções para problemas que não existem. Outra grande burrice é não validar exaustivamente uma solução que tem potencial e, depois de provada, adotá-la como padrão. Na informática os problemas antigos geralmente não são resolvidos, apenas abafados pela quantidade exponencial de problemas novos (ou com nomes diferentes).
5) Se projetos de engenharia civil fossem executados por informatas teríamos prédios que caem e voltam a se reconstruir logo depois.
É incrível como, de uma hora para outra, tudo desmorona e, depois de algum pequeno conserto ou mesmo sem intervenção, volta misteriosamente a funcionar. Duvido que, qualquer pessoa, mesmo usuário básico, já não tenha vivido essa experiência com seu computador.
6) Se as línguas orais e escritas fossem criadas por informatas, haveria quase tanta língua quanto gente no planeta.
A implicação óbvia é que ninguém se entenderia. A não tão óbvia é que nem seria possível existir tradutores para todas as possibilidades. E, mesmo dentro de uma mesma língua, os falantes não conseguiriam chegar a uma normatização do uso dos jargões. Babel é fichinha.
7) Se alimentos fossem plantados por informatas, cresceriam indefinidamente e poderiam nunca ser colhidos.
E cada vez mais se precisaria de adubos e inseticidas melhores. E mais irrigação. E as pragas de insetos atacariam sem trégua. E os agricultores teriam que ser cada vez mais espertos. E tratores maiores e mais potentes. Mas, a colheita propriamente dita, em muitos casos nunca seria realizada, pois, nessa área, o problema sempre cresce mais que a solução. Isso se aplica a um dos grandes paradoxos da informática: o hardware tem que crescer para acompanhar a evolução do softwares ou o software deve crescer para usar toda a potência dos hardwares novos?

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Oxigênio


Eu sou um ser anaeróbio. Pra quem não sabe o que é isso, vai a explicação, segundo a wikipedia: Anaeróbio é o termo técnico que significa literalmente sem ar e que se opõe a aeróbio.
Ah, eu odeio esta evolução dos tempos contemporâneos. Eu odeio ser anaeróbio. Eu gostava do tempo quando eu ainda respirava ar. Pois é. Mas os homo sapiens são anaeróbios? Não eram, mas atualmente... Vamos à "historinha"...

Hoje cheguei à conclusão que sou um inútil anaeróbio. Saio de casa antes das 7 da manhã e entro em uma condução lotada, ar-condicionada e com janelas que não abrem, em direção à senzala. O único ar que circula ali é o que entra quando é aberta a porta. Na realidade não "circula", pois não há outra abertura, portanto umas poucas moléculas entram. 
Chego no meu trabalho, um ambiente herméticamente lacrado desde a sua construção. As janelas não abrem. O circulador de ar-empoeirado-condicionado-da-época-dos-dinossauros-gerador-de-ruído nem está ainda ligado. Se fosse possível acender um cigarro, eu tenho absoluta certeza que a fumaça ficaria totalmente parada, como uma escultura, tamanha a densidade e a estanqueidade do conteúdo gasoso do recipiente.
Saio para o almoço. Na rua o ar talvez ainda exista, mas está há muito perdendo espaço para os respiradores compulsivos, nossos meios de transporte de massa. Pra quem não fez a conta ainda, cada carro 1.0 respira 1 litro de ar a cada 2 rotações do motor, portanto, em um congestionamento, dá uma média de 500 litros de ar por minuto por carrinho furreco. Um ônibus respira cerca de três vezes mais que isso. Chegando no restaurante, também herméticamente lacrado, o recirculador espalha os gases da cozinha por todo o salão, impregnando a roupa e o cabelo de quem fique míseros vinte minutos ali.
Tenho uma palestrinha à tarde em outro prédio. Desta vez não há nem mesmo janelas. Quatro paredes de concreto com portas fechadas nas extremidades. O ar, segundo o conceito "antigo", ali dentro simplesmente não existe; foi substituído por partículas grossas e fétidas que saem dos recirculadores, dos computadores, dos projetores, dos carpetes, das cadeiras, das roupas, pulmões, pés e rabos dos presentes.
Na volta para casa, outra condução herméticamente lacrada e o cheiro de gente sem banho há mais de dez horas, os espirros, a tosse, o chulé e os peidos dos repugnantes trabalhadores apressados e estressados, trancados em um congestionamento que se move mais vagarosamente que uma pacífica tartaruga.
Chego em casa depois das sete da noite e, como todo ser anaeróbio, deixo as janelas fechadas e o condicionador ligado. Pego uma cerveja e tiro o queijo de dentro do meu sapato, afinal, meu processo respiratório não mais necessita de ar, pois, ainda segundo a wiki, a respiração anaeróbia é feita principalmente a partir de fermentação, seja láctica ou alcoólica. 

E você, estimado leitor inútil, é também um anaeróbio? Há algum local em que você permaneça e que seja ainda naturalmente ventilado?

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Hooray! SIC is back (again)...


Ok, ok, eu tenho que admitir...  mesmo que ninguém leia esta bosta, tenho o vírus da escrita funcionando sob minhas pelancas gordas. Então, tamozaí devolta nas parada. Sempre seguindo o nosso lema inicial "Cada post é um tapa na cara", devidamente atualizado para "Cada post é um motivo para o suicídio". 
E pra recomeçar bem, que tal uma boa e velha blasfêmia com os símbolos sagrados católicos?



segunda-feira, 20 de abril de 2009

MINHA vidabesta.com

EU sou um egoísta. EU tenho certeza absoluta que os outros 6,77 bilhões de inúteis também são, não importa o quanto disfarcem.
EU estou aqui trabalhando no feriadão. EU odeio essas pessoas. EU odeio esse trabalho. EU odeio essa empresa. EU odeio esse país. EU odeio esse modelo econômico.
EU uso 0,5% dos MEUS conhecimentos nesse trabalho, 1% da MINHA inteligência e capacidade analítica e 1.000.000% da MINHA paciência. EU estou cercado por inúteis, imbecis, burros, retardados, mal-educados e que se acham os tais. EU não posso trabalhar com o que gosto. EU não sei mais do que gosto.
EU vim a pé. EU preciso fazer exercício. EU estou com 92kg, MINHA pança parece de seis meses, MEU colesterol está nas alturas. EU não tenho paciência para ir a uma academia.
MEU almoço é um prato de fruta e capim. EU não posso comer sobremesa. EU não posso fazer MINHA própria comida.
EU falhei em três tentativas de ser MEU próprio escravo e senhor. EU fui vencido pelo apetite infinito por impostos do governo. EU continuo pagando impostos. EU sustento essa corja que aí está. EU não posso fugir disso.
MEU médico acha que EU não devo tomar as drogas que ME fazem aguentar um pouco mais MINHA merda de vida. EU não tenho o direito de comprar o que EU quiser numa farmácia.
EU sou achacado pelos gafanhotos todo santo dia. EU não posso reagir. EU não posso matar um gafanhotinho sequer. EU estou à mercê da escória.
Ninguém ME respeita (ok, ninguém se respeita). Ninguém ME teme. Nem MEU cachorro tem medo de MIM. Ninguém precisa ME temer, pois SOU um bosta e não vou fazer nada mesmo. Ninguém ME entende (ok, ok, ninguém se entende também, mas EU estou cagando para os outros).
Ninguém ME dá uma oportunidade de trocar de país pra tentar uma vida menos indigna, pois EU nasci macaquito, e macaquito devo morrer.
MEU bairro está tomado por mendigos. MINHA casa é velha. MEU condomínio é caro. MEU carro é minúsculo, ridículo e caríssimo. EU pago muito para tê-lo parado na garagem. EU não posso ter uma moto pois MEU país não é civilizado. EU não posso ter nada, não posso ostentar, não posso aproveitar a miséria que EU consigo juntar ME fodendo de trabalhar.
MINHA mulher está sem emprego. MINHA mulher é uma pobre coitada, fudida, estressada, endividada, cercada de parentes inúteis e imbecis, que não ajudam em nada e sugam o quanto podem. MINHA mulher diz que vai embora porque EU quebrei uma coisa porque a MINHA faxineira quebrou meia dúzia.
EU não posso ME irritar. EU tenho que manter a calma. EU preciso ME controlar. EU devo aceitar tudo de bom humor. EU deveria remover meus culhões.
EU só não ME mato porque penso que MINHA velha mãe merece aproveitar tranquila o restinho da sua merdinha de vida que lhe sobra.
MINHA vida é uma prisão imbecil, repetitiva, maçante e inútil. EU estou apenas aguardando um infarto, derrame, aneurisma, câncer ou que um dos gafanhotos acabe ME matando. EU não tenho mais vontade.
EU estou encerrando esse MEU blog inútil de merda.

quinta-feira, 16 de abril de 2009


OMFG!!! ASOT 400!!! AVB ET AL FOR 72 NON-STOP HS!!!


Listen to it @ di.fm
Get timetable and/or watch it live @ astateoftrance.com

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Plínio presidente!


Mais branco que o Obama, mais barbudo que o Lula,
mais inteligente que o FHC, mais penteado que o Itamar,
mais bigodudo que o Sarney, mais carismático que o Collor,
mais safado que o Clinton, mais macho que a Kirchner,
mais barulhento que o Evo, mais macaquito que o Calderón,
late mais que o Chávez, morde mais que o Bush,
mais honesto que todos eles juntos!!

Velho não, antigo... (2)


Eu sou do tempo no qual havia um mínimo de decência. 
Eu sou do tempo no qual tribo era coisa de índio, gangue era coisa de presidiário, facção era coisa de rebelde político e bonde era um meio de transporte.
Eu sou do tempo no qual a vida sexual se iniciava na adolescência ou na vida adulta, nunca na infância. Putas se vestiam e se portavam como putas. Mulheres direitas se vestiam e se portavam como mulheres direitas. Vagabundinhas (putas grátis) eram raras de encontrar, ou de distinguir, pelo menos, pois se vestiam às vezes um pouquinho como putas, mas se portavam como mulheres direitas a maior parte do tempo.
Eu sou do tempo no qual "ficar" era apenas um verbo com sentido estático, parado, constante.
Do tempo no qual a educação sexual do homem era revista de mulher pelada. Do tempo no qual as mães não diziam para as filhas "fica com quais e quantos tu quiser, mas não quero saber de namorado" (SIM, EU OUVI ISSO ESSA SEMANA DE UMA MÃE DE ADOLESCENTE!!!). Do tempo no qual era arriscado e desafiador desobedecer a mãe, por isso qualquer escapadinha era tão difícil e tão gostosa. 
Eu sou do tempo no qual não havia pornografia na internet. Não havia internet e a pornografia era coisa de umas poucas revistinhas chinelas. Não havia câmera fotográfica digital no celular, nem câmera digital, nem celular. Havia privacidade, principalmente porque as pessoas prezavam isso. Do tempo da inocência e da decência, já decadentes, porém ainda num patamar suportável.
Ah, como eu sou antigo...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

The way the way I see it (ou "o caminho como eu o vejo")



Aviso aos leitores otimistas deslumbrados: leiam ignorando as partes em itálico cinza.


Acordo as 6 horas, depois de uma boa noite de sono. É a primeira em 3 dias.
Levanto, faço e tomo meu café, pego uma banana e saio em direção ao meu serviço - palavra que origina-se de servil, servidão, escravatura. Adequado. Faltam 15 minutos para as sete horas.
Minha jornada tem 7 quilômetros, os quais percorro a pé, para fazer exercício físico, do qual preciso para continuar saudável o suficiente para continuar dando lucro para meus senhores (do feudo e do engenho). Já na esquina de casa, o primeiro kinder ovo (as lixeiras do Fogaça) a primeira montanha de lixo. 
Ligo a música e coloco os fones, a rua está pouco movimentada a esta hora, ainda consigo ouvir em um volume civilizado. Ando mais cinco quadras e encontro um primeiro mendigo de muitos, dormindo em uma pracinha, livre e imperturbado, seu merecido sono reparador. Chego à uma grande avenida, aumento o volume da música até o máximo e, mesmo assim, não consigo distinguir o que está tocando. Vejo o arroio que passa no meio da avenida, com sua água espumada de tão imunda e graciosas garças brancas pescando, tingidas de cinza pela sujeira do ambiente de onde tiram seu sustento.
Continuo a caminhada, passando ao lado de uma sub-estação (foda-se a gramática) de energia, olhando atentamente para o chão, feito um porco chafurdando ou um cavalo bitolado, admirando o movimento frenético das formigas cortadeiras e prestando o máximo de atenção para desviar dos cacos de garrafa quebrados, do lixo e dos buracos da calçada. No muro em frente, se vê um grafite tosco protestando: "O preço da luz é um absurdo!" Mais alguns metros adiante, passo por uma parada de ônibus, totalmente destruída, onde algumas pessoas aguardam sua cara, suja e atrolhada, condução.
Saio dessa avenida e entro por uma rua novamente calma, onde diminuo o volume da música. Pessoas passeiam calmamente com seus cachorros, não se importando em juntar os excrementos dos animais, indiferentes à sujeira e ao fedor que produzem. Em frente a uma casa abandonada, um sofá velho repousa e, sobre e ao redor dele, mais quatro mendigos. Mais alguns metros e estou novamente em uma movimentada avenida. Aumento o volume. Passo em frente a um restaurante, onde o proprietário lava e esfrega inutilmente a calçada sebosa e fétida, tingida por excrementos animais e humanos. Chego a um viaduto, onde vivem (dormem, comem, lavam seus trapos, defecam e achacam os transeuntes) pelo menos cinco grupos de moradores de rua, com seus muitos e sarnentos cachorros. Passo rapidamente, tentando não respirar o repugnante mau cheiro e, ao atravessar a rua preciso parar bruscamente para não ser atropelado por um motorista mal educado que simples ou propositadamente ignora a existência de sinalizadores luminosos de direção.
Chego na calçada de um grande hospital, imponente no tamanho, mas minúsculo para atender à demanda de uma população regional que beira os 5 milhões de homo sapiens. Mais uma vez paro bruscamente para não ser atropelado, desta vez por um ciclista desgraçado, que venta suas tranças em cima da calçada, tirando finos dos sonolentos transeuntes. Penso em abrir o canivete e enterrá-lo em sua perna. Fico na imaginação. Logo em seguida, mais uma horda de mendigos dormem tranquilamente sob a marquise de uma lotérica, cujo proprietário lava e escova sem resultado o chorume que cobre o passeio.
Mais alguns metros e um outro hospital, cercado por filas de doentes, montanhas de lixo e catadores com suas carroças. Entro em outra avenida, onde tenho dificuldade para atravessar, pois o congestionamento já se forma e hordas de motoqueiros aceleram por entre os carros parados e, às vezes, também sobre as calçadas. Chego a um enorme parque. Ao entrar, vejo mais uma gangue de catadores e suas carroças abarrotadas de lixo dificultando a passagem dos esportistas matutinos em direção à pista de corrida. Alguns passos à frente, dois mendigos dormem envoltos em papelão sobre um belo gramado que circunda um sujo e mal cuidado jardim de tema japonês. 
Ainda com a música alta, escuto grunhidos e chiados - um dos mendigos tenta chamar minha atenção - abro o canivete e continuo a caminhada sem dar importância aos guturais sons. Logo não os escuto mais, pois ele desiste de mim, vendo uma senhora com seu cachorro, que lhe parece uma presa mais fácil. Vejo novamente pessoas passeando com seus cães, mais uma vez ninguém se importa em coletar os dejetos por eles produzidos.
Saio do parque e atravesso com bastante dificuldade outra grande avenida. Não há passarelas, apenas uma mísera sinaleira de pedestre, posicionada exatamente num ponto de difícil acesso para as pessoas e onde atrapalha bastante o fluxo dos veículos. Chego ao campus de uma grande universidade, com seus prédios antigos, imponentes e desgastados pelo tempo, sem sinal de conservação ou mesmo reparos básicos. Uma caixa d'água escorre cachoeiras de água tratada e paga com o dinheiro dos contribuintes, criando um belo efeito visual e fazendo com que os pedestres tenham que desviar seu caminho para a sarjeta de outra grande e movimentada avenida. Mais uma mal posicionada sinaleira de pedestres e chego ao centro.
Sob um grande viaduto, atravesso a rua novamente com dificuldade e tento não respirar o fedor que exala de mais um grupo de mendigos. Na outra extremidade deste viaduto há outro grande e exaurido hospital, que, por ser o único centro de atendimento especializado no estado, concentra diariamente o movimento de pacientes, que chegam em centenas de ambulâncias lotadas, oriundos de cidades em um raio de trezentos quilômetros.
Faltam 15 minutos para as oito horas da manhã, já caminho há uma hora. 
Desviando como possível das pessoas irracionalmente apressadas, da mira dos cagalhões das pombas, dos pingos nojentos que caem das marquises, do chuvisco enferrujado dos ar condicionados, dos alojamentos de mendigos que vivem nas praças, dos excrementos humanos e animais, dos roedores e insetos mortos (e vivos) pelas calçadas, dos crentes que pregam berrando suas profecias, dos panfleteiros que lhe enfiam ofertas nas fuças, dos vendedores de tudo quanto pode se imaginar, dos ensurdecedores negociadores de ouro e cabelos, dos buracos nas calçadas, dos lixeiros sem educação e seus pontiagudos apetrechos, das tribos de pseudo-estudantes emos, playboys, prostitutinhas baratas, ratas de academia, manos e pagodeiros, dos estúpidos ciclistas carteiros e entregadores de água mineral, dos índios fedidos e barulhentos e suas crianças, dos caminhões de transporte de valores e seus seguranças com escopetas, dos artesãos camelôs, dos cegos e aleijados com seus nervosos bastões, das pratibandas de prédios históricos abandonados que ameaçam cair, das variadas, fedidas e baixas tendas de comida, chego à esquina do meu trabalho.
Do outro lado da rua, em frente a uma repartição pública, uma fila absurda de cem metros dos que buscam a pífia, porém gratuita, assistência jurídica provida pelo estado.
Mais alguns metros e estou no elevador. Momentos depois, estou na minha mesa, uma hora e vinte minutos depois do início da estressante jornada. E o ambiente parece uma sauna, porque o ar condicionado ainda está desligado... mas isso já foi assunto de outro post...


quinta-feira, 9 de abril de 2009

Bebê promissor

Nasci em “berço de ouro”, em hospital particular, trazida ao mundo pelo melhor obstetra da cidade. Acontecimento noticiado em colunas sociais de duas cidades. Nunca usei fralda descartável, só as melhores e mais confortáveis fraldas de puro algodão. Meu enxoval foi comprado nas mais caras lojas da cidade.
Bebê promissor.
Será?
Tudo ilusão.
Aos 5 fui atropelada em frente de casa... ok... começou a merda...
Após uma infância conturbada, mas relativamente feliz, cheguei a adolescência sem grandes problemas.
Estudei meu 1º grau (sim, na época era assim que chamava) na melhor e mais cara escola da cidade.
Resolveram acordar e me passaram para um colégio estadual para fazer o segundo grau, afinal não podiam mais pagar. Na verdade nunca puderam, mas ok, isso seria assunto para outro post.
Terminei o primeiro ano (mesmo com os 3 meses de greve de 1991) e resolvi que era hora de começar a trabalhar.
Finalmente as coisas começavam a clarear.
Tive sorte, consegui fácil um emprego de dois salários mínimos !!! Uhuuu !!! Muito bom pra uma guria de 15.
Fiquei lá por dois anos.
Depois mudei de cidade e trabalhei em outro lugar por 7 meses.
Voltei para a cidade anterior onde trabalhei por mais 3 anos em outro lugar.
Mudei de cidade de novo, pois tinha passado no vestibular da Universidade Federal do estado. Uhuuu !!! O bebê voltou a ser promissor !!!
Arrumei outro trabalho e comecei a facul na federal.
As aulas começavam as 18h30m no campus do vale, eu trabalhava até as 18h no centro da cidade... então chegava sempre atrasada... com sorte lá pelas 19h15m...
Fui “crescendo” na empresa, afinal eu era um bebê promissor, inteligente, comprometido e competente.
Larguei a facul para me dedicar somente ao meu promissor trabalho.
Fiquei lá por 9 longos anos, trabalhava 12 horas por dia e com celular ligado 24 horas por dia, 7 dias por semana. Saí dessa empresa como gerente... Uhuu !!!

Ganhava um salário que mal me sustentava, não consegui comprar nem um carro, que dirá um apartamento.
Saí dessa empresa porque resolvi virar empresária. Uhuuu !!! Bebê ultra promissor !!!
Idiota... esqueci que morava no Brasil.
Fui micro-empresária de “sucesso” por dois anos e desisti. Repassava mais dinheiro para o Lula do que para o meu próprio bolso.
Hoje estou desempregada. Tenho 33 anos e estou cursando faculdade particular, pois larguei a federal para ser competente naquela empresa ali atrás.
Não me formei ainda.
Ainda faltam 3 anos pra isso.
Não arrumo nova BOA “oportunidade” no mercado de trabalho porque não sou formada.
Não arrumo nova RUIM “oportunidade” de trabalho porque tenho “muita” experiência.
Não arrumo estágio porque já fui gerente e empresária.
Não arrumo oportunidade nas “melhores empresas para se trabalhar” porque já estou velha demais. Sim, você não se confundiu, eu tenho 33, mas para essas empresas, já estou velha.
Fiz o que muito desempregado faz. Virei concurseira !!! Uhuuu !!! Bebê promissor de novo... Me matei estudando para um concurso que foi anulado por incompetência da banca organizadora.
Estou me matando de estudar, fiz até o melhor cursinho da cidade, para outro que agora está com o edital trancado, em virtude de divergência entre o órgão e o sindicato da categoria.
Ouço relatos de incompetência e despreparo de pessoas que estão “bem colocadas” em “empresas de sucesso” diariamente, feitos por pessoas com quem convivo... Mas eu não me recoloco, pois sou velha, não tenho faculdade e tenho experiência demais.
Bebê promissor?

Velho não, antigo...


Eu sou de um tempo em que as pessoas tinham vergonha de suas mazelas. 
Mendigos tentavam disfarçar sua condição miserável o quanto podiam, mantendo uma pose disfarçadamente transeunte e só deixando escapar sua mendicância quando extremamente necessário. 
Aleijados, coxos e amputados usavam roupas que não mostravam suas incapacidades.
Cegos caminhavam acompanhados por alguém, raramente batendo bengala.
Surdos não uivavam e gesticulavam Libras pelas ruas, bares e locais de trabalho.
...
Hoje, tudo está mudado. No mundo moderno e politicamente correto da "sociedade para todas as diferenças" os pudores desapareceram. Agora as pessoas fazem absoluta questão e se esforçam ao máximo para esfregar na sua cara as mazelas e desgraças que as afligem.
Mendigos vivem despreocupados pelas ruas, livres como nenhum outro cidadão, fazendo o que bem entendem, onde e a quem quiserem.
Aleijados, coxos e amputados usam bermudas, shorts, tops, miniblusas e outras roupas minúsculas e extravagantes.
Cegos andam sozinhos ou em grupos com seus iguais, batendo deliberada, ensurdecedora e agressivamente suas bengalas.
Surdos gritam seus uivos e gesticulam espalhafatosamente em qualquer lugar, mesmo nos que requerem silêncio, algo que lhes deveria parecer familiar.
...
Mas o pior desse mundo politicamente correto é não se poder expressar essa opinião. Porco nazista! Preconceituoso imundo!
Nazismo? Preconceito? Não seria apenas uma simples aplicação do conceito universal de respeito mútuo "não faça a outrem aquilo que não suporta que façam a ti mesmo", que, para um "antigo" como eu, foi ensinado, forçado e reforçado como regra mínima de educação???