sexta-feira, 22 de maio de 2009

Oxigênio


Eu sou um ser anaeróbio. Pra quem não sabe o que é isso, vai a explicação, segundo a wikipedia: Anaeróbio é o termo técnico que significa literalmente sem ar e que se opõe a aeróbio.
Ah, eu odeio esta evolução dos tempos contemporâneos. Eu odeio ser anaeróbio. Eu gostava do tempo quando eu ainda respirava ar. Pois é. Mas os homo sapiens são anaeróbios? Não eram, mas atualmente... Vamos à "historinha"...

Hoje cheguei à conclusão que sou um inútil anaeróbio. Saio de casa antes das 7 da manhã e entro em uma condução lotada, ar-condicionada e com janelas que não abrem, em direção à senzala. O único ar que circula ali é o que entra quando é aberta a porta. Na realidade não "circula", pois não há outra abertura, portanto umas poucas moléculas entram. 
Chego no meu trabalho, um ambiente herméticamente lacrado desde a sua construção. As janelas não abrem. O circulador de ar-empoeirado-condicionado-da-época-dos-dinossauros-gerador-de-ruído nem está ainda ligado. Se fosse possível acender um cigarro, eu tenho absoluta certeza que a fumaça ficaria totalmente parada, como uma escultura, tamanha a densidade e a estanqueidade do conteúdo gasoso do recipiente.
Saio para o almoço. Na rua o ar talvez ainda exista, mas está há muito perdendo espaço para os respiradores compulsivos, nossos meios de transporte de massa. Pra quem não fez a conta ainda, cada carro 1.0 respira 1 litro de ar a cada 2 rotações do motor, portanto, em um congestionamento, dá uma média de 500 litros de ar por minuto por carrinho furreco. Um ônibus respira cerca de três vezes mais que isso. Chegando no restaurante, também herméticamente lacrado, o recirculador espalha os gases da cozinha por todo o salão, impregnando a roupa e o cabelo de quem fique míseros vinte minutos ali.
Tenho uma palestrinha à tarde em outro prédio. Desta vez não há nem mesmo janelas. Quatro paredes de concreto com portas fechadas nas extremidades. O ar, segundo o conceito "antigo", ali dentro simplesmente não existe; foi substituído por partículas grossas e fétidas que saem dos recirculadores, dos computadores, dos projetores, dos carpetes, das cadeiras, das roupas, pulmões, pés e rabos dos presentes.
Na volta para casa, outra condução herméticamente lacrada e o cheiro de gente sem banho há mais de dez horas, os espirros, a tosse, o chulé e os peidos dos repugnantes trabalhadores apressados e estressados, trancados em um congestionamento que se move mais vagarosamente que uma pacífica tartaruga.
Chego em casa depois das sete da noite e, como todo ser anaeróbio, deixo as janelas fechadas e o condicionador ligado. Pego uma cerveja e tiro o queijo de dentro do meu sapato, afinal, meu processo respiratório não mais necessita de ar, pois, ainda segundo a wiki, a respiração anaeróbia é feita principalmente a partir de fermentação, seja láctica ou alcoólica. 

E você, estimado leitor inútil, é também um anaeróbio? Há algum local em que você permaneça e que seja ainda naturalmente ventilado?

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