sábado, 18 de dezembro de 2004

Conto de Natal da SIC - Parte I

Overman tentava não cochilar em pleno expediente, numa quente e enfadonha manhã de véspera de Natal, aquelas em que funcionários mais rasos como Overman eram obrigados a cumprir meio turno. O sono era grande e Overman não resistia. Mas, pouco antes de cair de nariz no teclado, Overman ouviu uma voz familiar lhe chamando. Olhou pra trás e qual foi a sua surpresa ao ver, em pé diante de si, um dos seus professores da época da faculdade. Usava a mesma roupa da última vez que o havia visto, além de trazer o seu velho telefone celular do tamanho de um tijolo na cintura.

- O que tu tá fazendo aqui?? - perguntou.
- Overman, Overman, olha pra ti, meu rapaz. Tu nem parece mais o guri promissor que eu conhecia, tsc, tsc. A priori, meu caro, vim aqui te dar a real - os outros funcionários da empresa, que naquele dia não eram muitos mesmo, pareciam não perceber a presença do professor.

- Que real?
- Sabe que dia é hoje?
- Um dia como qualquer outro?
- Não! Hoje é véspera de Natal.
- Putz. Odeio Natal.
- Eu sei, por isso que estou aqui. Vim te dar um recado. Hoje Overman, tu serás visitado por três fantasmas e...
- Puta, era esse meu medo...
- Cale-se!! - o professor parecia flutuar no ar agora - Preste atenção. A priori, o primeiro a chegar será o fantasma dos natais passados. Sistematicamente depois, o fantasma do Natal presente e por fim...
- O fantasma dos natais futuros...
- Isso. Boa sorte e vê se aprende alguma coisa. Não vá se tornar uma alma penada assim como eu.
- Alma penada? Não sabia que tu tinha morrido.
- Já faz tempo. Na verdade, na época que tu estudou naquele curso daquela universidade mediocre, eu já era uma alma penada. Conheces pena melhor do que dar aula naquela pocilga por toda a eternidade?
- Isso explica como tu conseguia dar tantas aulas ao mesmo tempo, no mesmo semestre...

Acordou. Tinha cochilado em cima do teclado e o apito do speaker do computador o despertou. Na tela apareciam caracteres aleatórios que ele devia ter digitado com a cara enquanto cochilava, ou algo assim. Foi lavar o rosto e esqueceu do sonho, almadiçoando ainda mais aquele dia, que ele detestava tanto. O que não sabia é que, se os caracteres "aleatórios" fossem lidos de trás pra frente, a seguinte mensagem teria surgido:

"HOJE, 9H DA NOITE. PRIMEIRO FANTASMA. A PRIORI, APROVEITE. G."

Mas ele apagou o texto e foi embora. Já era meio-dia.

(Continua...)

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