sábado, 30 de agosto de 2003

CLT ou não CLT ?

Quando fui contratado recentemente, depois de penar em entrevistas, processos seletivos, dinâmicas de grupo, murros em pontas de facas, depois de quase achar que eu tinha escolhido a profissão errada e que na verdade eu deveria estar num mosteiro budista longe da sociedade materialista, eu assinei um contrato CLT. E daí? Daí, nada. CLT não era pra ser normal, tipo, se o funcionário foi contratado pela empresa, a empresa assina sua carteira, lhe dá os beneficios e paga os encargos? É, eu pensava que era assim até pouco tempo atrás. Mas agora estou descobrindo que, por incrivel que pareça, o que era pra ser regra na verdade é uma exceção. Pelo menos na area de tecnologia da informação, ter um vínculo do tipo CLT é quase um PRIVILÉGIO. Várias coisas me fizeram pensar assim. Primeiro, notei que a maioria do pessoal contratado da empresa era autonomo, e que esses, mesmo que não soubessem, estavam sendo contratados pela empresa apenas pra segurar a demanda atual, e que mais cedo ou mais tarde, seriam mandados embora, como foram, com um, digamos, "aviso prévio", de uma semana. Depois, fui a uma entrevista e falei com um consultor de outras empresas pelo telefone (sim, acho que já disse que continuo atrás de um lugar melhor pra trabalhar), e ambos me perguntaram qual a minha forma de contratação atual. Quando disse as três letrinhas mágicas, "CLT", senti um misto de surpresa e admiração dos meus interlocutores. Pois agora digo e repito: desde quando CLT "deveria" ser um privilégio? As causas pra isso são bem conhecidas, mas vou destacar apenas uma, que talvez seja a mãe de todas as outras: a não-regulamentação da profissão. Lembram que eu disse que tá rolando um projeto de lei pra "regulamentar a desregulamentarização" da profissão de informata? É, esse projeto foi escrito por professores universitários caquéticos, a maioria deles formados em Engenharias, pois lá nos tempos dos faraós haviam poucos cursos de graduação na área de computação. É OBVIO que eles querem que a coisa continue assim, já que esse modelo defasado e retrógrado sempre os privilegiou. Acontece que os tempos são outros, e se a coisa continuar como está, muito em breve ninguém mais vai querer trabalhar a sério em Informática no Brasil. Seremos um bando de meios-profissionais, com meios-conhecimentos, enquanto que as empresas de tecnologia irão produzir produtos cada vez mais com meia-qualidade. Então, veremos a industria do software brasileiro explodir e derreter que nem a plataforma de Alcantara, levando os melhores profissionais do ramo junto.

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