sexta-feira, 30 de abril de 2010

Geradores infinitos de conhecimento inútil

Eu já devo ter mencionado por aqui que eu odeio invencionices, nacionalizacão de termos de outras línguas, distorção dos significados tradicionais das palavras e, sobretudo, acrônimos. Todavia, no mundo atual moderno contemporâneo, pós-internet em que vivemos podemos perceber, em todas as áreas do conhecimento, o crescente e irracional desejo por "novidade", por "metodologia", enfim, por produção de "conhecimento".
Inútil como sou, consigo reconhecer muito bem inutilidades em geral e, exemplificando, seguem algumas imbecilidades "mudéunas" da minha área de conhecimento:

Acrônimos
Não há, no universo conhecido, sequer uma viva alma da área de tecnologia que nunca usou um acrônimo. Embora às vezes úteis para encurtar uma explicação quando se tem consciência de que os envolvidos estão familiarizados com a terminologia, não deveriam ser usados em excesso, muito menos com único propósito de complicar, confundir ou "fazer boiar" o interlocutor em questão. Alguns exemplos:
- J* (JSP, JEE, JME, JRE, JFC, JNDI, JINI, JSON, JSF, JPA, JAXP, JAIN, JCVM, JCL, ...): O JAVA, linguagem de programação da moda, que serve para resolver todos os problemas existentes e futuros do universo, tem tantas siglas quanto expoentes gênios especialistas. Tanto uns como os outros servem exatamente para a mesma coisa: NADA, ou, digamos, criar (pseudo-)conhecimento para (pseudo-)"agregar valor" a uma enorme gama de (pseudo-)tecnologias que são, no fim das contas, vários jeitos de usar um mero C++ for dummies.
- *.net (ASP.NET, C.NET, OO.NET, VB.NET, ...): Exatamente como descrito acima, sem tirar nem por.
- *ML (XML, XAML, HTML, DHTML, PHTML, XHTML, MXTML, ...): Todo esse monte de nomes esquisitos servem, em última análise, apenas a um único propósito (mas bem disfarçado como muitas coisas completamente diferentes): criar estruturas para páginas web.
- *PM* e similares (ou seja, qualquer coisa que contenha "project", "management", "business", "intelligence", "administration", "knowledge", etc.): Os gurus da gerência de projetos tem orgasmos múltiplos com siglas, principalmente as maiores (uuuuiuuuuiuuui, como era graaande aquele acrônimo) e mais obscuras. Se acham seres humanos superiores e sua principal característica é a capacidade de gozar apenas pelo fato de citar algo que a escumalha não consegue entender (pelo menos não de imediato). Desejo do fundo do meu negro coraçãozinho que comecem a cruzar somente entre eles e que a evolução faça sua parte, levando-os à extinção.
- abertura e fechamento inúteis de comunicados inúteis, como PSC, RSVP, BR, TS, FYI, ATT, SDS, N-R,  THX, TIA, ASAP, TTYL, BFN, ...

Neologismos/estrangeirismos
Todo imbecil inútil pseudo-qualquer coisa que se preze não pode se expressar na sua própria língua, ou em nenhuma única língua qualquer, sem enfiar um ou outro. Como eles próprios, em geral, nem sabem o que isso significa, o estrangeirismo é uma das vertentes do embromation, na qual se criam palavras mal traduzidas para dizer coisas que poderiam perfeitamente ser expressas ou na língua original ou na que está dominando a conversa, enquanto o neologismo é a arte inútil de criar ou distorcer significados de termos para identificar ou relacionar certas coisas com pessoas ou outras coisas. Os exemplos, aqui no país dos macaquitos, obviamente são de palavras em inglês abrazzzileirado ou relacionadas à novidades vindas de lá, e vão junto com a explicação perfeitamente clara no velho e bom português: "debugar" (depurar), "mergear" (combinar), "upar" (enviar), "sharear" (compartilhar), "pêemebokado" (seguindo as regras do tal), "isopadronizado" (idem), "scanear" (digitalizar... ahm, um neologismo explicado com outro...), "pontocom" (sem comentários), "postar" (como blog não é correio, eu traduzo como publicar), "blogar" (publicar suas opiniões escritas no tal serviço), "webinário" (seminário com transmissão na rede mundial), "teleconf" (reunião com participantes remotos no viva-voz), "pagear" (enviar uma mensagem), "bipar" (enviar um aviso), "pingar" (idem), "eventualmente" (aquele com significado traduzido errado do termo em inglês, que lá significa "futuramente" enquanto o nosso seria "ás vezes"), "googlear" (fazer uma pesquisa usando tal mecanismo de busca), "tuitar" (escrever um textículo no tal serviço), "customizar" (personalizar, adaptar), "bê-dois-bê" ou "bítchûbí" (de uma empresa a outra), "startar" (inicar), "interfacear" (algo como conectar, mas isso pode significar tanta coisa...).

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