terça-feira, 15 de abril de 2003

Todo inútil é palhaço...

O zelador do prédio onde moro não é um inútil. Ele não tem escolaridade, por não ter tido oportunidade ou não querer estudar. Não vem ao caso. Ele não estudou, mas sabe escrever seu próprio nome, ler nomes dos moradores para entregar a correspondência e anotar números de telefone. Ele executa bem seu trabalho no prédio: mantém os corredores e escadas limpos, o jardim apresentável, as lâmpadas em perfeito funcionamento, o lixo no seu lugar adequado. Ele recebe cerca de R$ 350 líquidos por mês, tem um pequeno lugar para morar sem pagar aluguel, não paga água, luz nem gás, ganha VT para visitar sua família. Ele não é esperto, mas não é um palhaço.

Um jogador de futebol de um clube qqer, na cidade onde moro, não é considerado um inútil. Ele pode não ter escolaridade, por não ter tido oportunidade ou não querer estudar. Não vem ao caso. Ele não estudou, mas sabe escrever seu próprio nome, contar seu dinheiro, discar números no seu celular e ler as placas de trânsito para poder passear com seu belo carro importado, além de saber jogar futebol. Ele recebe cerca de R$ 100 000 líquidos por mês, mora no melhor lugar da cidade, paga suas contas sem nenhuma preocupação, tem férias de 3 meses por ano. Ele é um palhaço, mas é esperto.

Eu sou um inútil. Eu tenho escolaridade em nível de pós-graduação, porque tive oportunidade e quis estudar. Eu estudei, mas não sirvo pra muita coisa, além de escrever meu próprio nome e outras informações sobre mim mesmo e ficar mandando insistentemente esses textículos. Eu não recebo nada, mas hoje fiz mais uma prova de seleção e me foi ofertada uma vaga de emprego, para receber um salário de R$ 400 por mês. Com esse dinheiro eu não posso pagar um aluguel, nem minhas contas de água, luz e condomínio, nem viajar para visitar minha família, nem ter um carro importado e telefone celular, nem ir a um estádio de futebol. Eu não sou esperto. Eu sou um palhaço. E também sou um inútil.

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