sábado, 5 de julho de 2003

Os inúteis e a fila dos garis

Demorei, mas tive que comentar o que todo mundo cansou de ver nos noticiários na última semana. Aquela fila, ou melhor, aquele amontoado de seres humanos desesperados, tentando conseguir uma vaga de gari (a 600,00 e poucos por mês), impressiona. Acho que cenas como essa servem pra mostrar, de uma vez por todas, que o que a gente tem falado aqui na SIC não é conversa fiada. Tinha gente diplomada querendo trabalhar como varredor de rua, ou numa definição mais politicamente correta, como "auxiliar de serviços de higienização urbana". As cenas suscitaram inúmeras discussões sobre o desemprego no Brasil. Mas talvez o que só nós aqui da SIC estejamos vendo é que o problema não é só a falta de vagas. O problema é que a moda agora é exigir cada vez mais dos candidatos a emprego. Não basta ter curriculo, formação, experiência (nem ela, a maldita experiência de que tanto já falei mal aqui). Agora o sujeito tem que ser "super-homem". Tem que saber um pouco de tudo, mas ter alguma especialização. Tem que ter experiência, mas não muita, senão já pode estar viciado em processos antigos. E por aí vai...O que antes se resolvia com análise de curriculo e/ou entrevista, hoje precisa passar por uma batelada de processos de seleção duvidosos, e não me refiro apenas a dinâmica de grupo. Têm coisas aberrantes que a gente lê de vez em quando, tipo, "se você coçar o nariz durante a entrevista, o entrevistador pode interpretar como um sinal de insegurança, ou que você tem algum desvio no seu comportamento sexual".
A dúvida que me surge é: esse pessoal tá certo? Digo, eles tem razão em querer dificultar cada vez mais a admissão para qualificar os seus empregados, ou tudo isso não passa de uma grande bobagem? A resposta às vezes me parece óbvia.
Falando em desemprego, mais uma reportagem sobre o assunto na grande mídia. Na Istoé dessa semana, a reportagem Queremos Emprego fala dessas e outras cositas mas. O que mais me chamou a atenção na reportagem foi o relato de alguns desempregados, que na situação em que se encontram, começam a sentir um desânimo, uma desilusão pela vida, quase como se o desemprego fosse uma doença no corpo da pessoa. Isso mostra pra vocês, nossos dois leitores que restaram, que os textos "psicodélicos com tendência suicida" que já sairam aqui não são tão malucos assim.

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