segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Quem sou eu?

Eu acordo todos os dias antes do sol nascer. Eu vou dormir todos os dias depois de o sol se pôr.
Faça chuva ou faça sol, faça frio ou calor, neblina ou vento, lá estou eu no meu trabalho.
Trabalho em troca de uma ração ruim e um teto onde eu possa desmaiar depois de uma extenuante jornada.
Não tenho diversão, nem sei o que é isso, pois passo os dias só na labuta.
Estou sempre à disposição de meu dono, para atendê-lo na hora que quiser.
Se realizo mal minha tarefa, sou punido. Se realizo bem, tembém sou punido.
Sou constantemente humilhado e desrespeitado tanto pelos meus donos como por meus semelhantes.
Tenho dores terríveis e doenças diversas provocadas pelo excesso de trabalho, pelas condições terríveis e pela constante repetição dos movimentos.
Como minha ração ruim quando dá, em um mísero intervalo entre uma tarefa e outra. Às vezes passo o dia sem ter tempo para comer. Não tenho tempo para mastigar ou sentir o gosto das coisas, a ração é meramente uma garantia de que eu me mantenha em pé e trabalhando.
Faço minhas necessidades fisiológicas em qualquer lugar, também em algum mísero intervalo. Às vezes me seguro por horas até que possa dar um pequeno peido.
Sou um preso, um condenado ao trabalho forçado por toda minha existência. Fico trancafiado, tenho medo dos outros. Tenho medo de tudo.
Na minha prisão ficarei até não mais ter forças para a lida, quando serei substituído e atirado em um canto sujo e abandonado, onde passarei o resto de meus dias esperando o homem da gadanha.
Finalmente ao encontrar a morte, serei queimado ou enterrado e, já esquecido enquanto velho, minha reles existência não deixará vestígio.

Quem sou eu?
O cavalo do carroceiro.
Qualquer semelhança com tua própria inútil vida não é mera coincidência, caro leitor.

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